Quem era seu Lidinho, passista e ícone do samba, que morreu nesta segunda em Florianópolis

Florianópolis perdeu neste 5 de agosto Lídio Augusto Costa Filho, 83 anos, o popular ‘seu Lidinho’, uma das figuras mais representativas da cultura do samba

Despedida a seu Lidinho ocorre no Cemitério do Itacorubi e sepultamento em Coqueiros (Foto: Glaicon Covre, Arquivo DC)

Quem nunca encontrou Lidinho numa esquina, calçada de bar, vão do Mercado Público, sede de escola de samba ou na Passarela Nego Quirido, em Florianópolis? Quem nunca se deixou contagiar por aquele senhor de pele preta, com baixa estatura, vestindo calça e sapatos brancos, usando chapéu de malandro e sambando miudinho? Mas o “patrimônio do samba de Florianópolis”, como reconhece o cantor Sabarah Costa, morreu às 12h25min deste 5 de agosto.

Lidinho estava internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Regional de São José em consequência de uma parada cardiorrespiratória. Ele era casado com Sonilda, com quem teve filhos, e também deixa netos.

Nascido no Morro do Céu, numa família de sambistas, o passista Lidinho teve sua vida ligada à Escola de Samba Embaixada Copa Lord. A mãe, Maria, era baiana; enquanto o pai, Lídio, como dizia o próprio Lidinho, “segurava a sacola com o combustível (cachaça) para os batuqueiros”. Os irmãos também tiveram presença destacada na vermelho, amarelo e branco.

Presença nas ruas interagindo com os mais jovens

Em Florianópolis, todo mundo sabia qual era a escola do coração de Lidinho. Mas isso nunca foi problema.

— O seu Lidinho lembrava aquelas lendas que passaram pelo Carnaval de Florianópolis, como Avez-Vous, Nega Tide, Tenente. Figuras que vêm uma vez e não aparecem outra igual. Um tempo com maior romantismo e com mais identidade com o folião — diz o músico Wagner Segura.

Ainda que da Velha-Guarda da Embaixada Copa Lord, Lidinho desempenhou um papel importante ao trazer o samba para o asfalto.

— A presença dele nas ruas, interagindo com os mais jovens, o tornou uma espécie de memória ambulante da história do samba em Floripa — observa Ana Cláudia, instrumentista e professora de Biblioteconomia na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

Carlos José Vieira, o Duda, sempre se declarou fã.

— Em todos os cantos da cidade, em todos os eventos, sejam eles carnavalescos ou não, tinha lá um preto trazendo alegria, dançando feito um bailarino. Era o nosso querido negro bailarino chamado Lidinho — lembra Duda, autor de enredos para a Consulado.

Veja fotos de seu Lidinho

Incansável, como se tivesse uma pilha interna

Seu Lidinho, que é verbete no Beabá do Samba, de C. Bernard, era um homem simples. Aposentado pelo Estado, casado, pai de quatro filhos e com netos, levava uma vida simples.

— Um sambista com um sambar único, querido por todos, com aquele jeitinho tranquilo e vestido no capricho — lembra César Nunes, o Cesinha, compositor e atualmente responsável pela Harmonia Acadêmicos do Sul da Ilha.

Zezinho Carriço, um dos fundadores do Marisco da Maria e conselheiro da Os Protegidos da Princesa, via em Lidinho um ser carismático, com aura de sambista nato, exclusiva, que alegrava e contagiava a todos.
E para Vicente Marinheiro, compositor com samba em diversas escolas e integrante da Unidos da Coloninha, “Lidinho foi um menestrel do samba”.

Antigo vizinho, o compositor e músico Cláudio Caldas conta como via Lidinho:

— A gente lamenta a perda dessa pessoa incansável e disposta pelo samba. Ele parecia que tinha uma pilha interna.

Samba no pé mais “raiz” entre os passistas

Seu Lidinho era presença constante nos desfiles do Berbigão do Boca. Para Nado Garofallis, o Berbigão perdeu um dos maiores destaques e dono de uma alegria permanente.

— O Seu Lidinho era o personagem que mais representava o nosso Carnaval. Sempre vestido com as cores da sua Copa Lord, com samba no pé mais “raiz” entre nossos passistas e presente nas rodas de samba da cidade.

Para o manezinho Caco Bastos, os passos de Lidinho vão deixar um vazio.

— Lidinho tinha um corpo e um sorriso leves. A cidade vai sentir saudades da presença dele.

Para o compositor Bira Pernilongo, o samba, por si só, é alegria, e quando puro, contagia.

— No caso de Lidinho, era a felicidade no olhar. Eu sempre vi em Lidinho o samba em sua essência.

Para o também copalordeano Irineu Nunes, Lidinho era hors concours por carregar a alegria do sambista.

— Ver seu Lidinho todos os finais de semana dançando nos bares do Centro Histórico era felicidade. Nossa Embaixada Copa Lord perdeu mais um baluarte, mas com certeza o Lidinho cumpriu a missão.

No último 5 de dezembro, na Câmara de Vereadores de Florianópolis, Lidinho recebeu homenagem em comemoração ao Dia Nacional do Samba. A proposição da vereadora Tânia Ramos (PSOL) foi uma das últimas que Lidinho recebeu em vida.

Em 2001, quando foi criada a Velha-Guarda Musical da Copa Lord, Lidinho teve mais oportunidade de demonstrar o amor pelo samba. Denilson Machado lembra que mesmo diante das dificuldades, ele dava o seu conselho. “Vamos sambar, vamos dançar. Vamos nos divertir mais.”

Despedida de Lidinho

A cerimônia de despedida de Lidinho será na Capela D, da Funerária São Pedro, no Cemitério do Itacorubi, das 23h50 desta segunda (5) até 15h10 desta terça (6). O sepultamento está previsto para as 16h desta terça, no Cemitério Municipal São Cristóvão, no bairro Coqueiros.

O personagem emblemático da história do Carnaval de Florianópolis deve reunir sambistas de todas as bandeiras para o último adeus. Como explica em um texto o historiador e escritor Luiz Antonio Simas, a cerimônia que em muitos casos inclui música (também comida e bebida) tem lá suas justificativas.

— Há alguns mitos que falam da necessidade de festejar para que a morte não perceba que alguém está sendo velado ali e não leve mais ninguém.

Histórias do samba. Samba esse que Lidinho soube louvar como poucos.

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