‘Ele nunca conseguia voo’, diz tia de catarinense vítima de acidente da Voepass

O programador Rafael Fernando do Santos, 41 anos, morador do bairro Estreito, em Florianópolis, pegou a filha, a pequena Liz Ibba dos Santos,  3 anos, em Cascavel, no Paraná, para ficarem juntos no Dia dos Pais. Rafael e Liz, entretanto, eram passageiros do avião turboélice ATR-72. Os dois morreram no acidente da Voepass que matou 62 pessoas na última sexta-feira (9).

As fotos mostram diferentes momentos de Rafael e Liz, duas vidas interrompidas no acidente da Voepass

As fotos mostram diferentes momentos de Rafael e Liz, duas vidas interrompidas no acidente da Voepass – Foto: Nícolas Horácio/ND

Conforme a madrinha e tia de Rafael, Mariângela Kretzer Martins, nas diversas vezes que foi buscar a filha, ele nunca tinha conseguido voo.

“Ele ia de ônibus, às vezes a família ia junto, ficavam em pousada com a menina. Agora, como era Dia dos Pais, conseguiu esse voo. Foi a primeira vez”, descreve Mariângela, mencionando o acidente da Voepass que matou o sobrinho e arrasou outras tantas famílias brasileiras.

Familiares e amigos se despedem em São José

Na manhã desta terça-feira (13), familiares e amigos se despediram de Rafael, após velório e enterro, no Crematório e Cemitério Vaticano, em Forquilhas, São José.

“O Rafael era um menino muito alegre, dedicado, educado. Muito ligado à família, a nós, aos pais, aos irmãos. Tudo que ele mais queria era estar com a menina. Sempre que ia buscar era uma alegria muito grande”, revela Mariângela.

Familiares e amigos se despediram de Rafael foi na manhã nesta terça-feira (13) – Foto: Nícolas Horácio/ND

O programador trabalhava como servidor no MPSC (Ministério Público de Santa Catarina), na Cotec (Coordenadoria de Tecnologia da Informação), mas circulava bastante pelas demais estruturas do MP.

Nos relatos da tia, Rafael era muito reservado, na dele, mas quando estava presente gostava de conversar e era um colecionador de amigos. E a grande alegria, nos últimos anos, era a filha.

“O Rafa gostava muito de estar com os amigos, ir à praia, caminhava todos os dias com o pai, na Beira-Mar Continental, pela manhã”, conta a tia.

Identificação do corpo após o acidente da Voepass

Até o momento, a família não teve problemas de suporte com a companhia aérea. O corpo de Rafael foi identificado por meio de imagens enviadas por um dentista e o trâmite de reconhecimento foi facilitado também por meio do Ministério Público em Cascavel.

Outro indicativo é de que a companhia aérea a princípio vai disponibilizar um auxílio emergencial.

Velório e enterro foram no Crematório e Cemitério Vaticano, em Forquilhas, São José. – Foto: Divulgação/ND

“Isso não traz ele de volta. É o que menos importa nesse momento. O mais importante, do que qualquer outra coisa, é a vida”, desabafou a tia. Mariângela teve pouco contato com Liz, mas a descreveu como uma menina simpática e alegre.

Rafael foi enterrado por volta das 12h. Ele deixou os irmãos Gabriel, que é bombeiro, e Daniel, também programador, que veio da Holanda para se despedir do irmão.

Deixa também o pai, Nilo, e a mãe, Marta. Até segunda-feira (12), o corpo de Liz não havia sido liberado, mas será encaminhado para Cascavel, no Paraná, com a família materna.

Amigos para sempre

Além da família, Rafael deixa um enorme grupo de amigos. O engenheiro civil Felipe Luis de Andrade, 42, é amigo de adolescência. Eles frequentavam a Igreja Católica da Coloninha, quando tinham 15 anos. O tempo foi passando e virou amigo da família, dos tempos de verão em Itapema.

“Daquelas amizades que a gente leva. Fizemos faculdade na mesma época, fomos à formatura um do outro, as namoradas ficaram amigas, depois as esposas e se formou um grupo”, conta.

Nesses encontros, Rafael era o amigo preferido de todos os pais. “Amigo de boa influência, que era correto, sempre muito educado. Sempre preocupado que todos estivessem bem”, ressalta Felipe.

O corpo de Liz ainda não foi liberado, mas vai para Cascavel com a família materna – Foto: Nícolas Horácio/ND

Segundo Felipe, Rafael era um cara organizado, metódico. “A gente pegava no pé dele nas festas, porque ele queria a programação toda definida antes, os horários para tudo. A gente pegava no pé que ele fazia as planilhas dos passeios”, brinca o amigo, enfatizando a natureza agregadora de Rafael.

Felipe também ressaltou o esforço do amigo para estar com Liz sempre que possível, mesmo que isso demandasse grandes deslocamentos. “Ele vai deixar muita saudade e vamos nos consolar com a felicidade de ter feito parte dele”.

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