Plano Nacional do Turismo ignora LGBTs; especialistas avaliam impacto

O Plano Nacional de Turismo tem como objetivo orientar as ações do governamentais e utilização de recursos públicos até 2027
O turismo para a comunidade LGBT+ ficou fora do Plano Nacional de Turismo para o período de 2024-2027. O documento, assinado pelo presidente Luiz Inácio Lula e o ministro do Turismo, Celso Sabino, foi aprovado pelo Governo Federal na última semana, apresenta orientações de ações que o governo deve tomar e detalha a forma de utilização de recursos para a área.
Turismo em Florianópolis e em Santa Catarina recebem premiação nacional - Foto: SETUR/Divulgação
Ações para atrair a comunidade LGBT ficam fora do Plano Nacional de Turismo e pode impactar na captação de turistas para Florianópolis – Foto: SETUR/Divulgação

Ao falar sobre o documento, o ministro Sabino enalteceu o Plano Nacional de Turismo e reforçou a meta de atrair 10 milhões de turistas internacionais.

“Temos o compromisso de alcançar a marca de 10 milhões de visitantes estrangeiros e, se mantivermos os bons resultados registrados neste ano, não tenho dúvida de que atingiremos o objetivo. O plano não é do Ministério do Turismo, é uma orientação para todos – órgãos públicos e iniciativa privada. É um plano para o Brasil, a ser implementado por todos”.

No entanto, em nenhum parágrafo do documento consta qualquer ação voltada especificamente ao turismo LGBT+. O Floripa.LGBT ouviu Clovis Casemiro, um dos dirigentes da Associação Internacional de Turismo LGBT (IGLTA), A inclusão desse setor turístico é algo que seria de grande importância para a comunidade, segundo Casemiro, principalmente no contexto pós-pandemia.

“Nós sentimos a força do turistas LGBT+ internamente. Hoje o entendimento dos profissionais do turismo é diferente, os turistas LGBT+ como são vistos como ‘consumidores’ de fato”, comenta.

Atualmente, a IGLTA faz um trabalho de promover o turismo LGBT e levar visitantes da comunidade LGBT+ a novos destinos, como Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Norte, Amazonas e Pará, evidenciando destinos naturais, praias e passeios ao ar-livre como opções de roteiros para pessoas LGBT+.

Além de Clovis, o diretor da Parada LGBT+ de São Paulo, Almir Nascimento, também concorda a presença desse tipo de turismo no planejamento do governo federal ajudaria a Parada de SP, e consequentemente iria impulsionar tanto políticas públicas na área do turismo como a empregabilidade.

Já considerada a maior Parada LGBT+ do mundo, a Parada de São Paulo atrai tanto turistas do Brasil inteiro como pessoas de outros países, sendo “um movimento propulsor da cultura e do turismo LGBT”, de acordo com Nascimento.

O esquecimento do turismo LGBT em Florianópolis

“Por muitos anos a cidade de Florianópolis foi meca de turistas LGBT+“, afirma Clovis. O gerente de membros de IGLTA explica que atualmente não há a participação de Santa Catarina em nenhum evento sobre turismo LGBT+ como a Feira LGBT+ Turismo Expo, que aconteceu em São Paulo em julho deste ano ou o espaço LGBT+ do Festuris, em Gramado.

“Hoje só ouvimos falar (de Florianópolis) devido à procura que ainda existe. Imagina se Santa Catarina trabalhasse melhor para ampliar esses turistas novamente?”, questiona.

Recentemente, o governador de Santa Catarina, Jorginho Mello (PL), afirmou que não iria disponibilizar recursos para a Parada LGBTI+ em Florianópolis, por considerar o evento como uma “pauta ideológica”, afirmando que projetos “estritamente culturais” seriam patrocinados. Apesar de declaração do Governador reafirma a falta de compromisso do Estado com o turismo LGBT+ relatada por Clóvis.

Cerca de 100 mil pessoas estiveram na 16ª Parada do Orgulho LGBTI de Florianópolis
16ª Parada do Orgulho LGBTI de Florianópolis, em 2023, reuniu cerca de 100 mil pessoas – Foto: Pedro Perez/PMF/Divulgação

Enquanto isso, o governo do Estado de São Paulo tem uma linha de fomento apoiando paradas, festivais culturais e semanas de diversidade sexual promovidas no Estado com o programa “+ Orgulho”.

“Ainda é muito pouco, né? O movimento precisa de mais ações, de mais políticas públicas”, conta o diretor da Parada LGBT+ de São Paulo. Para ele, o diálogo com a administração municipal, estadual e federal é de extrema importância para incentivar o turismo LGBT+ no geral.

Além do Plano Nacional de Turismo

Apesar de não haver nenhuma citação ao turismo LGBT+ no PNT, Clovis relata sobre algumas ações que tem sido feitas para fomentar o turismo no Brasil.

“Essa semana participamos do Salão do Turismo em conjunto com o Ministério do Turismo (MTur), onde discutimos exatamente essa importância de politicas publicas para ampliar o Turismo LGBT+ no Brasil”, afirmou Clovis.

Entre os pontos que Clovis citou estão ações voltadas para a segurança pública e a ampliação das informações contidas na Cartilha do MTur de como receber o turista LGBT+. Junto a isso, ele afirma que a IGLTA e o Governo tem trabalho para que sejam feitos mais eventos da comunidade LGBT, como o Miss Gay Brasil e os festivais Garotas ao Mar e Love Noronha.

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