Pesquisadores da UFSC desenvolvem protótipo de aplicativo capaz de identificar fungos através de fotos

Aplicativo reúne informações de mais de 500 espécies de macrofungos. Foto: Ariéll Cristovão/Agecom/UFSC

O grupo de pesquisa MIND.Funga, coordenado pelo Laboratório de Micologia (Micolab) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), está desenvolvendo um aplicativo capaz de identificar, a partir de fotos, espécies de macrofungos, como cogumelos e orelhas-de-pau, por exemplo. O projeto utiliza um banco de dados composto por mais de 13 mil fotografias que representam 505 espécies de macrofungos coletadas em diversas regiões do Brasil.

O estudo, intitulado Innovative infrastructure to access Brazilian fungal diversity using Deep Learning, destaca como o uso de inteligência artificial (IA) pode facilitar a pesquisa e o mapeamento de espécies fúngicas no país. O pesquisador da UFSC Elisandro Ricardo Drechsler dos Santos explica que a IA é treinada, por meio de bancos de imagens, para reconhecer padrões visuais. O aplicativo permite aos usuários capturar fotos de fungos em seus dispositivos e obter identificações baseadas na semelhança com imagens presentes no banco de dados.

“Esse aplicativo vai permitir uma identificação mais eficiente dos macrofungos, utilizando padrões de imagens e inteligência artificial, algo que pode transformar a forma como a ciência cidadã contribui para a conservação da biodiversidade”, aponta o pesquisador.

Esse avanço visa ampliar o acesso ao conhecimento sobre fungos e incentivar o interesse da população. “Nós precisamos popularizar os fungos no Brasil e democratizar o conhecimento sobre eles. Com essa ferramenta, qualquer pessoa poderá usar um celular para contribuir com a ciência e conhecer mais sobre a diversidade fúngica”, afirma.

Uso do aplicativo em sala de aula

Filha do professor Elisandro utilizou o aplicativo para fotografar fungos. Foto: acervo pessoal

Durante seu mestrado no Programa de Pós-Graduação em Ensino de Biologia da UFSC, Carolina Ribeiro utilizou o aplicativo com alunos do segundo ano do ensino médio da Escola de Educação Básica Presidente Médici, em Joinville. Na dissertação, intitulada Diversificando nas aulas de micologia do Ensino Médio, ela compartilha que o uso do aplicativo MIND.Funga foi um fator chave para aumentar o interesse dos alunos. Ao fotografar os fungos durante as aulas de campo, os estudantes podiam usar o aplicativo para identificar as espécies. “Acredito que fazer o uso das tecnologias contribuíram de uma forma positiva no engajamento da turma em geral”, afirma. Além disso, os alunos compartilharam as descobertas na plataforma Padlet, onde os professores da UFSC e da Universidade da Região de Joinville (Univille) adicionavam comentários e correções, o que trouxe um sentimento de valorização ao trabalho dos alunos.

Carolina destacou que o impacto do projeto foi positivo, mostrando que muitos alunos passaram a ver os fungos em seu cotidiano de forma diferente. Para ela, o projeto reforça que o uso de estratégias diversificadas, aliadas às tecnologias da informação, é eficaz no ensino de ciências e pode aproximar os estudantes da prática científica. “Alguns começaram a pesquisar mais, fotografar os fungos fora do horário de aula, perceber que o cotidiano é científico, que o cientista não está intocado lá na universidade, e que ele, como cidadão, pode inclusive contribuir”, conclui. 

Os fungos no Brasil

O Brasil contém cerca de 20% da biodiversidade e das espécies de fungos do mundo. Atualmente, acredita-se que existam entre 1 e 5 milhões de tipos de fungos no planeta, porém apenas cerca de 150 mil são catalogados. O aplicativo móvel permitiria mapear a existência de diferentes espécies, permitindo a criação de ações de conservação. De acordo com Elisandro, o Brasil é um país micofóbico. “A gente não consome, a gente não coleta cogumelos, não é uma cultura que passa de pai para filho, acredito que o Brasil ainda tenha que mudar a sua cultura em relação aos fungos”.

Brasil contém cerca de 20% das espécies de fungos do mundo. Foto: Ariéll Cristovão/Agecom/UFSC

O pesquisador afirma que os fungos têm o potencial para contribuir com 10 dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, desde a fome zero até as mudanças climáticas. Porém, segundo o pesquisador, as espécies costumam ser negligenciadas em políticas de conservação, e algumas enfrentam ameaça de extinção.

Os fungos são essenciais para a estabilidade climática devido ao seu papel na filtragem de carbono no solo, além de colaborar para a saúde ecossistêmica. Muitos alimentos, medicamentos e produtos podem ser beneficiados pelos fungos também. A penicilina, por exemplo, antibiótico usado para tratar infecções bacterianas, surgiu a partir da descoberta dos fungos Penicillium.

Um dos objetivos do MIND.Funga é registrar a existência de fungos ameaçados e encontrados na Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN). Essa ação também busca conscientizar a população a respeito da necessidade de iniciativas de conservação.

Atualmente, o aplicativo está em fase de testes apenas para pessoas selecionadas. O núcleo também produziu um e-book que tem como objetivo propor uma metodologia padrão para a captura de imagens. Mais informações estão disponíveis no site do MIND.Funga.

 

Mateus Mendonça [email protected]
Estagiário da Agecom | UFSC
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