Mpox: nova variante aumentou em 160% o número de casos neste ano

O diretor geral da OMS (Organização Mundial da Saúde), Tedros Adhanom Ghebreyesus, anunciou na última semana que o surto de Mpox (anteriormente chamada de varíola do macaco) no Congo e em outras localidades da África é uma emergência global. A decisão da agência se deu um dia após o CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças) da África declarar emergência de saúde pública, diante de um aumento de 160% do número de novos casos em 2024.

Pessoa com diversas erupções cutâneas causadas pela Mpox

Erupções cutâneas são sintomas característicos da Mpox – Foto: Reprodução/ND

Até este mês, foram notificadas 14.250 pessoas infectadas pelo vírus causador da Mpox, das quais 456 evoluíram para morte naquela região. A República Democrática do Congo representou 96,3% dos casos e 97% das mortes. O aumento de infecções é associado a uma nova variante do vírus que se espalha rapidamente e é mais grave e letal, segundo especialistas.

Já houve registros da doença em países onde ela não havia sido detectada até então: Burundi, Quênia, Ruanda e Uganda, na África Oriental. A Costa do Marfim registra um surto da doença, mas de outra variante, enquanto a África do Sul confirmou mais dois casos. “Esta não é apenas uma questão africana. A Mpox é uma ameaça global, uma ameaça que não conhece fronteiras, raça ou credo. É um vírus que explora nossas vulnerabilidades, atacando nossos pontos mais fracos”, ressaltou ontem o diretor geral do CDC África, Jean Kaseya.

No Brasil, o Ministério da Saúde avaliou que o risco atual de contágio é baixo, mas a situação continua sendo monitorada de perto. O Ministério da Saúde instalou um COE (Centro de Operações de Emergência em Saúde) para coordenar as ações de resposta à doença no país.

“A detecção e a rápida propagação de uma nova variante de Mpox no Leste da República Democrática do Congo, a sua detecção em países vizinhos que não tinham reportado a Mpox anteriormente e o potencial para uma maior propagação dentro de África e fora dela são muito preocupantes”, disse Tedros.

Números da Mpox – Foto: Ilustração/ND

A OMS estima precisar de US$ 15 milhões para desenhar a resposta imediata à nova emergência, dos quais US$ 1,5 milhão já foram mobilizados por meio de um fundo de contingência. “Planejamos lançar mais nos próximos dias. Também apelamos aos doadores para financiarem o resto do plano de resposta”, ressaltou Tedros.

O que é a Mpox

A Mpox é uma doença zoonótica causada pelo vírus de mesmo nome, pertencente à família do vírus da varíola humana. É transmitida principalmente por contato direto com lesões na pele, fluidos corporais, ou objetos contaminados, como roupas de cama. A transmissão também pode ocorrer por meio de gotículas respiratórias durante contato prolongado face a face.

Primeira emergência e ameaça contínua da Mpox

Em maio de 2023, quase uma semana após alterar o status da Covid-19, a OMS declarou que a Mpox também não configurava mais emergência em saúde pública de importância internacional. Em julho de 2022, a entidade havia decretado status de emergência em razão do surto da doença em diversos países.

“Assim como com a Covid-19, o fim da emergência não significa que o trabalho acabou. A Mpox continua a apresentar desafios de saúde pública significantes que precisam de resposta robusta, proativa e sustentável”, declarou, à época, o diretor geral da OMS, Tedros Adhanom.

“Casos relacionados a viagens, registrados em todas as regiões, demonstram a ameaça contínua. Existe risco, em particular, para pessoas que vivem com infecção por HIV não tratada. Continua sendo importante que os países mantenham sua capacidade de teste e seus esforços, avaliem os riscos, quantifiquem as necessidades de resposta e ajam prontamente quando necessário”, alertou Tedros em 2023.

Vacina para uso emergencial

Esta semana, a OMS publicou documento oficial solicitando a fabricantes de vacinas contra a Mpox que submetam pedidos de análise para o uso emergencial das doses. O processo foi desenvolvido especificamente para agilizar a disponibilidade de insumos não licenciados, mas necessários em situações de emergência em saúde pública. No documento, a agência solicita que os fabricantes de vacinas contra a doença apresentem dados que possam atestar que as doses são seguras, eficazes, de qualidade garantida e adequadas para as populações-alvo.

OMS publicou documento oficial solicitando a fabricantes de vacinas contra a Mpox que submetam pedidos de análise para o uso emergencial das doses – Foto: OMS publicou documento oficial solicitando a fabricantes de vacinas contra a Mpox que submetam pedidos de análise para o uso emergencial das doses

A concessão de autorização para uso emergencial deve acelerar o acesso às vacinas, sobretudo para países de baixa renda e que ainda não emitiram sua própria aprovação regulamentar. O Ministério da Saúde informou que negocia a aquisição emergencial de 25 mil doses de vacina e que alguns estudos demonstraram que pessoas vacinadas contra a varíola no passado podem ter alguma proteção contra a Mpox.

Diferenças entre os tipos de Mpox

Mpox (2022-2023)

Em julho de 2022, a OMS determinou que o surto global de Mpox constituía emergência em saúde pública de importância internacional. O número de casos relatados globalmente à época atingiu seu pico em agosto de 2022 e começou a diminuir gradualmente até abril de 2023.

Em maio do mesmo ano, quase uma semana após alterar o status da Covid-19 e em meio à uma redução significativa na disseminação de casos de Mpox, a OMS determinou que o evento também não constituía mais uma emergência global, mas continuava a apresentar desafios de saúde pública significantes que precisavam de resposta robusta.

Mpox (2024-presente)

Na semana passada, o diretor-geral da OMS convocou um comitê de emergência para novamente avaliar o cenário de mpox na África e o risco de disseminação internacional da doença. A decisão levou em conta o registro de casos fora da República Democrática do Congo, onde as infecções estão em ascensão há mais de dois anos.

O cenário se agravou ao longo dos últimos meses em razão de uma nova variante. O CDC África (Centro de Controle e Prevenção de Doenças) chegou a declarar emergência em saúde pública de segurança continental. Um dia depois, a OMS decretou emergência global.

Transmissão

Embora inicialmente descoberta em macacos, a Mpox é mais frequentemente transmitida a partir de roedores selvagens para humanos, especialmente em áreas rurais da África central e ocidental. Em 2022, pela primeira vez desde que o vírus foi identificado, houve um surto global da doença, afetando principalmente países da Europa e Américas. O Brasil chegou a ser o segundo local com o maior número de casos.

As lesões podem ser planas ou levemente elevadas, preenchidas com líquido claro ou amarelado, podendo formar crostas que secam e caem. O número de lesões pode variar de algumas a milhares. As erupções tendem a se concentrar no rosto, na palma das mãos e na planta dos pés, mas podem ocorrer em qualquer parte do corpo, inclusive na boca, nos olhos, nos órgãos genitais e no ânus.

Lesões podem ser planas ou levemente elevadas, preenchidas com líquido claro ou amarelado, podendo formar crostas que secam e caem – Foto: Reprodução/Getty Images/ND

A OMS chegou a alertar no fim de junho para uma variante mais perigosa da Mpox. A taxa de letalidade pela nova variante 1b na África Central chega a ser de mais de 10% entre crianças pequenas, enquanto a variante 2b, que causou a epidemia global de Mpox em 2022, registrou taxa de letalidade de menos de 1%.

Tratamento

A maioria dos casos são leves, mas complicações podem ocorrer, especialmente em pessoas imunocomprometidas. O tratamento é principalmente sintomático, focando no alívio dos sintomas e prevenção de complicações. Há uma vacina disponível, a Jynneos, que pode ser aplicada inclusive após a exposição, antes do desenvolvimento dos sintomas. A disponibilidade mundial do imunizante, porém, ainda é limitada.

Sintomas Mpox – Foto: Sintomas

*Com informações do Estadão Conteúdo e Agência Brasil

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