O Laboratório de Controle da Qualidade do Ar (LCQAr) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) esteve à frente da produção do Relatório Anual de Acompanhamento da Qualidade do Ar de 2024, documento que consolida dados e informações coletadas pelos estados e apresenta uma avaliação integrada sobre a qualidade do ar no Brasil para o Ministério do Meio Ambiente e Mudanças do Clima. O relatório foi publicado em abril de 2025 e reúne dados e analisa a cobertura de monitoramento no Brasil, estabelecendo também perspectivas para ampliação. Segundo o documento, apenas cerca de um terço da população brasileira é coberta por monitoramento da qualidade do ar.
A equipe da UFSC contou com 14 integrantes, que trabalharam junto de pesquisadores de outras universidades e do órgão federal. O coordenador do LCQAr Leonardo Hoinaski explica que o convênio com o Ministério do Meio Ambiente tem duração de 26 meses. Com isso, o laboratório irá realizar análises ainda mais aprofundadas, além de oferecer outros projetos que estão inclusos nos sete objetivos da colaboração. Para desenvolver as demais pesquisas, é necessário criar uma base de dados, e o Relatório Anual de Acompanhamento da Qualidade do Ar representa um primeiro passo.
Em 2024, 20 Unidades Federativas (UFs) realizavam monitoramento da qualidade do ar, número maior que o de 2023, quando eram 16 UFs. Sete estados do Norte, Nordeste e Centro-Oeste ainda não possuem estações que monitoram o ar, o que evidencia a necessidade de atuação dos órgão públicos para o cumprimento da Resolução nº 506 de 2024 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama). A resolução estabelece padrões nacionais de qualidade do ar e fornece diretrizes para sua aplicação, consolidando a importância de relatórios anuais.
Foram contabilizadas 479 estações de monitoramento em 2024, acréscimo de 84 estações em relação ao levantamento de 2023. Os resultados mostram que a cobertura da rede de monitoramento no país é pequena, com estações de referência — equipamento de alta precisão — cobrindo apenas 0,22% da área total, enquanto as estações indicativas — equipamento de precisão menor — cobrem 0,07%.
O relatório elaborado pela UFSC indica que a rede precisa de ampliação e distribuição mais uniforme das estações de monitoramento, tendo em vista que apenas 30% da população brasileira é coberta por monitoramento da qualidade do ar de referência e 3,57%, por monitoramento indicativo.
De acordo com o relatório, “implementar padrões mais restritivos representa um passo fundamental para a proteção da saúde da população”. O documento faz a ressalva de que, para alcançar uma gestão uniforme, “é imperativo que os esforços sejam estendidos a todos os estados”. Investir na ampliação das redes de monitoramento, no quadro técnico das instituições reguladoras e no fortalecimento das políticas de controle de emissões é, segundo o estudo, essencial para assegurar que os padrões de qualidade do ar sejam atendidos de forma consistente em todo o Brasil.

Estação de monitoramento do ar instalada ao lado da Biblioteca Central. Foto: Gustavo Diehl/Agecom/UFSC
Monitoramento em SC
Florianópolis recebeu sua primeira estação de monitoramento da qualidade do ar em outubro de 2024. O equipamento instalado ao lado da Biblioteca Central da UFSC é fruto de uma colaboração entre o Instituto do Meio Ambiente de Santa Catarina (IMA) e a Universidade. Ele faz medições da concentração de ozônio, óxido de nitrogênio e material particulado de até 2,5 micrômetros (MP2,5). A estação também tem utilidade educativa, ao possibilitar a realização de pesquisas sobre o monitoramento.
A instalação é um passo para a ampliação da rede de monitoramento de Santa Catarina. No relatório anual de 2024, o estado possuía somente três estações, o menor número entre os estados do sul e sudeste. Também não havia Relatórios de Avaliação de Qualidade do Ar e Planos de Controle de Emissões Atmosféricas em SC.
Colaboração
Entre os objetivos da colaboração entre o Ministério e o laboratório, estão a avaliação de potenciais políticas públicas para o controle de emissão de poluentes e a elaboração de guias para a gestão da qualidade do ar adequada em níveis estadual e nacional. O projeto utilizará simulações com modelos matemáticos para estimar os níveis de poluentes a fim de compreender o processo de poluição no território nacional.

Estação gerenciada pela UFSC e IMA monitora poluentes no ar. Foto: Gustavo Diehl/Agecom/UFSC
Entretanto, desenvolver esse sistema exige esforço e requer um trabalho extenso de coleta, armazenamento e tratamento de dados. “É muito desafiador avaliar a qualidade do ar no Brasil, um país com dimensões continentais e enorme variabilidade socioeconômica”, enfatiza Leonardo.
As iniciativas exigem dedicação de uma equipe de pesquisadores ampla e capacitada. O Laboratório de Controle da Qualidade do Ar mobilizou professores e estudantes de graduação e pós-graduação para a elaboração do Relatório Anual de Acompanhamento da Qualidade do Ar de outubro a dezembro de 2024.
Apesar dos avanços, os estados e o país têm um longo caminho para alcançar o monitoramento ideal, como explica o documento: “O relatório revela um desafio complexo que envolve a necessidade de expansão das redes de monitoramento em áreas estratégicas, garantindo uma cobertura equitativa em todas as regiões do Brasil. Por fim, existe uma demanda latente de padronização e armazenamento adequado dos dados e informações para a gestão da qualidade do ar.”