
Trabalho do Lapad começou há 30 anos (Divulgação)
O Laboratório de Biologia e Cultivo de Peixes de Água Doce (Lapad) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) completa, em 2025, três décadas de monitoramento das espécies de peixes do alto Rio Uruguai, na divisa de Santa Catarina com o Rio Grande do Sul. No período foram realizadas diversas ações integradas, como a avaliação da produção pesqueira através da análise da pesca artesanal; o desenvolvimento de tecnologias para cultivo de espécies nativas de peixes; a manutenção de um plantel de reprodutores de peixes; a estocagem experimental de espécies migradoras de peixes para garantir a recomposição dos estoques pesqueiros e a criação e a manutenção de um banco de sêmen crioconservado.
No monitoramento, apetrechos de pesca são instalados em ambientes distintos dos rios para captura e análise dos indivíduos presentes, e identificação da dinâmica de possíveis alterações das espécies. “Os estudos do ictioplâncton possibilitaram identificar locais importantes para a desova e crescimento, e padrões reprodutivos de espécies migradoras”, salienta Alex Pires de Oliveira Nuñer, coordenador do projeto. Nesses estudos foram catalogadas informações sobre 114 espécies de peixes na região, que foram compiladas na publicação do Catálogo Ilustrado dos Peixes do Alto Rio Uruguai, publicado em 2004 pela Editora da UFSC/Tractebel Energia, que se encontra em fase edição revisada e ampliada.
O monitoramento da ictiofauna, que é a fauna referente aos peixes, é complementado com dados da pesca artesanal, obtidos em parceria com pescadores artesanais que atuam na área do reservatório da usina de Itá. “A colaboração voluntária contribui para a avaliação contínua da produção pesqueira local, ampliando assim os dados sobre quais espécies são mais capturadas, em que período e com qual apetrecho de pesca”, destaca o professor.
Os trabalhos começaram em 1995, mas se intensificaram a partir do ano 2000, quando entrou em operação a Usina Hidrelétrica (UHE) Itá, situada entre os municípios de Itá, no Oeste catarinense, e Aratiba, no Norte gaúcho. Financiado pelo Consórcio Itá e pela Engie Brasil Energia, a iniciativa conta com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa e Extensão Universitária (Fapeu).
A implantação e operação de empreendimentos hidrelétricos produzem modificações nos habitats, na dinâmica e na estrutura das comunidades de peixes. “Essas modificações limitam a continuidade de algumas espécies no ambiente e favorecem a proliferação de outras, de modo que o monitoramento contínuo dessas alterações é parte fundamental das ações de mitigação dos impactos produzidos”, observa o professor.
A eficácia das estocagens experimentais de peixes é realizada juntamente com os pescadores artesanais parceiros do projeto, que armazenam em álcool um pequeno pedaço das nadadeiras das espécies migradoras por eles capturadas para posterior análise. Através da caracterização dos peixes capturados no rio é possível realizar a análise de parentesco para descobrir se os peixes capturados são oriundos dos programas de estocagens experimentais do Lapad.
Reprodução
Como parte do trabalho de conservação, bem como para incentivar a produção de espécies nativas de peixes, o Lapad também desenvolve tecnologias de reprodução e cultivo de alevinos das espécies migradoras. “Essas são as espécies mais afetadas pelos barramentos dos rios, que impedem o seu processo natural de reprodução”, observa Nuñer. Os peixes do plantel de reprodutores, que possuem carga genética exclusiva da bacia do Rio Uruguai, estão estocados na Estação Experimental de Piscicultura da UFSC, e são submetidos a protocolos experimentais de reprodução induzida para a produção de alevinos em grande escala.
O Lapad realiza as estocagens experimentais com fins de reprodução desde 2004. O laboratório coleta reprodutores no Rio Uruguai, faz a caracterização genética e promove cruzamentos controlados a fim de maximizar a variabilidade genética. “Essa etapa é fundamental para evitar o acasalamento de peixes com carga genética muito parecida, por exemplo, como a reprodução entre irmãos ou entre pais e filhos. Isso porque, quando são realizados cruzamentos entre indivíduos aparentados, reduz-se a variabilidade genética, aumentando as chances de enfraquecimento da população”, comenta o professor.
Os estudos de investigação da diversidade genética dos peixes no Rio Uruguai começaram em 2006. Desde então, diversas ações têm sido realizadas, principalmente com as espécies migradoras, como dourado e o suruvi. “Os trabalhos investigam a diversidade e a estrutura genética das populações com o objetivo de conhecer como as atividades provocadas pelo homem estão afetando a carga genética das espécies mais impactadas por essas mudanças”, explica o coordenador.
As ações também fazem bem para a formação acadêmica. Afinal, ao longo das últimas três décadas, mais de 150 alunos, entre graduação, mestrado, doutorado e pós-doutorado, estiveram envolvidos direta ou indiretamente nos estudos.
Com informações da Fapeu.