Herói sem capa e inspiração: três histórias de afeto em SC para inspirar o Dia dos Pais

Neste segundo domingo de agosto, milhares de famílias se reúnem para celebrar o Dia dos Pais. Mais do que uma oportunidade de presentear figuras tão importantes, é um momento para reconhecer a importância da figura paterna na criação de um filho. Eles são os pilares de apoio, orientadores e, muitas vezes, sacrificam suas próprias necessidades para garantir o sucesso dos seus descendentes.

Dia dos Pais

Pai aos 19 anos, Gabriel Rosa se inspira no amor por Mamadu para suas músicas – Foto: Germano Rorato/ND

Pai, o maior incentivador do sonho do filho

O empresário e motorista de aplicativo Marcelo Henrique Meira é um exemplo perfeito de comprometimento com o sonho do filho, Igor Bertoli Meira, que se dedica ao triatlo desde criança.

Com o carro plotado com o nome do filho, Meira dedica suas viagens para contar a história do filho no esporte e ainda vende mel e pasta de amendoim, uma iniciativa de Igor quando ainda tinha 11 anos de idade.

O triatleta relembra como tudo começou. Quando tinha apenas 10 anos, assistiu a uma prova de Ironman pela primeira vez, um momento divisor de águas, afinal, foi ali que decidiu praticar o esporte.

Marcelo Henrique Meira divulga o sonho do filho durante o trabalho como motorista de aplicativo e vende o mel e a pasta de amendoim para ajudar no custeio das despesas com treinamento e equipamentos – Foto: GERMANO RORATO/ND

“Conhecemos um projeto, uma escolinha onde ele foi aprendendo sobre o esporte, e rapidamente foi convidado para um campeonato brasileiro, no qual participou e voltou como campeão brasileiro com 11 anos”, relembra o pai.

Atualmente com 17 anos, Igor participa de competições, e para realizar esse sonho toda a família se mobilizou, especialmente o pai.

“Eu trabalho em uma microempresa familiar e, nas horas vagas, faço corridas e dou apoio colocando o nome dele no carro. Ele até brinca que é o Igor Móvel. E é legal que o pessoal puxa conversa e ainda consigo vender o mel que é do sítio do avô, e a pasta de amendoim, que ajudam a custear as despesas”, revela.

O apoio do pai é essencial para Igor. Há sete anos competindo, o jovem já é tetracampeão brasileiro de triatlo e se orgulha em mostrar os troféus e medalhas espalhados pela casa.

“Perdi as contas, hein. Mais de 100”, declara, rindo.

No próximo ano, Igor completa a maioridade e já adianta os planos para o futuro.

“Eu pretendo, nos próximos anos, chegar às Olimpíadas, representar o Brasil, e depois pensar no Ironman, mas é um sonho.”

De um lado, o pai orgulhoso do filho, que já constrói uma carreira de atleta desde cedo; e de outro, o filho que conta com o apoio e a segurança do pai para chegar onde quiser.

“Ele é um orgulho infinito. É muito bom ver o filho fazer o que gosta e estar junto com ele. Encaixo minha rotina para que a gente vá juntos às provas. Eu não sou o técnico, mas sou um grande apoiador”, assegura Meira.

“Meu pai é o meu maior incentivador. Me leva para todos os meus treinos, acorda cedinho comigo. Me ajuda muito na divulgação do meu trabalho, muitos seguidores ganhei através do carro. O apoio dele é fundamental”, reforça Igor.

Pai (literalmente) herói

O pai que literalmente apaga incêndios, assume riscos, faz resgates delicados e, depois de um longo e difícil dia, volta para casa para matar a saudade das filhas.

As pequenas Ana Lua e Malu em visita ao trabalho do pai – Foto: REPRODUÇÃO/ND

Esse é o cabo Jean Renato Vieira, bombeiro que faz parte do Batalhão de Busca e Salvamento com cães e teve como última missão importante o resgate durante as enchentes no Rio Grande do Sul, em junho deste ano. Pai de três meninas, Vieira também tem um papel importante em cuidar dos filhos de outros pais.

O CBMSC (Corpo de Bombeiros Militar de Santa Catarina) é referência internacional nas ações de busca e salvamento de vítimas com cães. Dos 11 anos trabalhando na corporação, nos últimos dois, Jean conta com a parceria da labradora Ilha.

A relação de cumplicidade entre os dois é o que move esperanças. Jean a considera como uma filha, já que ela chegou ainda filhote à sua companhia, com apenas 45 dias.

Eles treinam diariamente para serem eficientes nas missões. A dupla foi empenhada para atuar no Rio Grande do Sul, após a catástrofe natural que destruiu casas, famílias e vidas.

“Quando recebemos a missão de deslocamento, sendo pai, já surge um sentimento de insegurança, medo e angústia. E na primeira semana de missão, houve uma situação que mexeu muito com toda a equipe”, relembra.

Ele conta que equipe ficou encarregada de encontrar o pai e a filha que haviam se separado da mãe que estava há dois dias em cima de uma torre de alta tensão.

“No momento em que encontramos a menina, foi uma sensação de alento por saber que estaríamos devolvendo um ente querido. Mas ainda faltava o pai para que a mãe pudesse dar um enterro digno. E foi um sentimento de frustração nosso, porque não conseguimos localizar esse pai, e não tem como não nos colocarmos no lugar dele. Isso mexe muito com a gente”, revelou, com tristeza.

O bombeiro esteve nas missões desde maio, quando os gaúchos foram assolados pela enchente. Jean passava uma semana longe das filhas, uma tarefa difícil para ele e ainda mais preocupante para a família que o aguardava dia após dia.

“Eu me lembro das palavras que minha filha Malu falou para mim: ‘Pai, eu sei que você ajuda muitas pessoas, mas toma cuidado porque você também tem a gente em casa’”, relembra.

“Conforme elas vão crescendo, criam mais consciência das dificuldades e desafios que vou enfrentar. Quando vamos para as missões, não temos certeza se vamos voltar, mas passamos a confiança de que vamos voltar, e voltar para os braços delas”, diz.

E pensar que Vieira escolheu sua profissão bem antes de ser pai.

“A escolha partiu de uma situação muito difícil. Eu quase perdi meu pai afogado, e eu vi essa situação; foi na praia do Matadeiro. Meu pai estava tarrafeando, a tarrafa dele ficou presa na pedra, e até hoje eu gostaria de ter a oportunidade de encontrar o surfista que salvou meu pai”, relembra.

Ser bombeiro é ser herói, mas para Ana Lua, Malu e a filha mais velha, com certeza, o maior superpoder do cabo Jean é ser pai delas.

Filho é uma universidade e inspiração para a arte

Gabriel Rosa sempre soube que a música era o seu destino, mas a vida lhe trouxe uma surpresa que mudou tudo: a paternidade precoce. Aos 19 anos, ele se tornou pai, algo que não esperava tão cedo.

Pai aos 19 anos, Gabriel Rosa, de Florianópolis, se inspira no amor por Mamadu para suas músicas – Foto: GERMANO RORATO/ND

Esse momento exigiu dele um amadurecimento rápido e profundo, pois percebeu que um filho é, na verdade, um espelho.

“Eu não esperava ser pai tão cedo. Foi todo um processo de aprendizado, porque uma criança acaba sendo o nosso reflexo, então é um trabalho para sermos cada vez melhores para refletir o nosso melhor neles”, compartilha.

Foi nesse novo papel como pai que Rosa encontrou a faísca que consolidou sua trajetória artística. O nascimento de seu filho, Mamadu, não só trouxe novos desafios, mas também uma inspiração inigualável.

“Depois de muita pesquisa, descobri que Mamadu é um nome africano, uma variação do nome árabe Mohamed, um dos mais conhecidos no mundo. Mamadu também foi um príncipe africano. Tanto o nome quanto a história por trás dele me inspiraram a compor uma música em homenagem ao meu filho”, conta ele, com orgulho.

Hoje, Mamadu, com quase 7 anos, conhece a letra da música dedicada a ele de cor. A canção é quase como um mantra, uma ligação profunda com suas raízes. Desde cedo, Mamadu se conecta com a cultura da capoeira, uma prática que iniciou ainda no ventre de sua mãe.

“A mãe jogava capoeira com ele na barriga. Quando ele tinha 2 anos, já se aproximava dos tambores e começava a tocar o ritmo da capoeira. Fiz questão de trazer essa conexão para a música”, explica Rosa.

Nascido e criado na comunidade do Monte Serrat, em Florianópolis, Gabriel, conhecido artisticamente como Gabriel, o Rosa, já levou suas músicas autorais por diversos palcos em várias cidades do Estado. Sua arte não é apenas uma expressão pessoal, mas uma ponte que conecta sua história familiar, suas raízes e sua espiritualidade.

“Cada vez que subo ao palco, levo comigo o meu filho. A saudade é grande, mas a inspiração que ele me dá para ser sempre melhor é ainda maior”, ressalta. “Ter um filho é uma universidade. É entender que todo o esforço e trabalho são para ele. É uma emoção muito grande”, completa.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.