Revitalização da rua Bocaiúva em Florianópolis pode se tornar um modelo para o país

Transformar a rua Bocaiúva, no Centro de Florianópolis, em um modelo para o Brasil é a promessa do projeto de revitalização da região, elaborado há dez anos pela JA8 Arquitetura Viva. Ao priorizar a mobilidade, acessibilidade e qualidade de vida dos moradores e visitantes da Capital, o projeto – que contempla os 820 metros de extensão – visa não apenas modernizar a via, mas também tornar o espaço urbano mais acessível e agradável para pedestres, ciclistas e motoristas.

Proposta do projeto é tornar a rua Bocaiúva mais acolhedora aos pedestres, os principais usuários da via – Foto: Germano Rorato/ND

A concretização do projeto é um sonho antigo dos moradores e empresários da região, mas que ainda não saiu do papel – por pouco. O comerciante Sérgio Arruda, o Serginho, dono do Emporium Bocaiúva, presente na região há mais de 30 anos, acompanhou de perto o nascimento da ideia.

“Por volta de 2005, Carlos Ferreirinha veio para Florianópolis. O Ferreirinha foi o idealizador da Oscar Freire, que era uma rua comum e se tornou a mais chique de São Paulo. Ele se encantou pela Bocaiúva e disse que era a Oscar Freire de Florianópolis. A partir disso, formou um grupo grande chamado ‘Movimento Bocaiúva’”, relembra.

A ideia seguiu adiante, e o que era somente um sonho começou a se tornar realidade. Em 2015, o projeto executivo foi desenvolvido por meio da iniciativa privada, e em 2016, a prefeitura, por meio do então administrador municipal Cesar Souza Junior, recebeu o projeto em mãos.

“O Sebrae nos apoiou, assim como a CDL, o Shopping Beiramar e outras entidades, além do setor privado. Já estava tudo ok. Foi orçado, tinha dinheiro para isso, mas houve uma divergência nos acordos entre a prefeitura e o governo do Estado, e a revitalização não seguiu adiante”, conta o empresário.

Com quase dez anos separando o quase fechamento do acordo até o atual momento, Serginho reforça que a ideia do Movimento Bocaiúva é tirar o projeto da gaveta e finalmente colocá-lo em prática.

“Desde sempre, a ideia foi muito saudável, porque todos queriam. Nós, empresários, queríamos, os moradores queriam, mas infelizmente não foi para frente. Acreditamos que agora é o melhor momento para ele sair do papel. Ainda é uma vontade de todos. Estão previstos empreendimentos para a região. Todo mundo quer fazer acontecer, e uma revitalização aqui, assim como várias que estão ocorrendo na cidade, também é necessária”, completa.

Iniciativa visa valorizar o pedestre da rua Bocaiúva

Com um salão de beleza localizado na travessa Carreirão, João Costa, também integrante do Movimento Bocaiúva, argumenta que o projeto permite um passeio integrado entre a vida na rua e os comércios. “A ideia é transformarmos essa parte da cidade em um local ainda mais atrativo, onde as pessoas possam passear com espaço e segurança, além de desfrutar o entorno”, pontua.

O pouco espaço para pedestres, excesso de obstáculos e baixa acessibilidade já foram questões identificadas pelo projeto da arquiteta e paisagista da JA8 Arquitetura Viva, Juliana Castro. Mesmo realizado há uma década, a arquiteta defende a atemporalidade do projeto. “Ele segue bastante atual. Nós propusemos algo atemporal, que vai cumprir as funções de qualificação da estrutura mais básica”, revela.

Um dos principais objetivos é aumentar o espaço e o conforto dos pedestres. Para isso, Juliana explica que a proposta inclui a ampliação das calçadas, sem a eliminação das duas faixas de tráfego, e a instalação de cruzamentos elevados para reduzir a velocidade dos veículos. A inclusão de vegetação nativa e de mobiliário urbano, como bancos, lixeiras e bicicletários, também está prevista, criando uma nova ambiência na região.

“Apesar de ser uma via importante, com grande fluxo de pedestres, o espaço destinado a eles é limitado. Em alguns trechos, as calçadas têm apenas 80 cm de largura, o que compromete a acessibilidade. Nosso objetivo com esse projeto é tornar a Bocaiúva mais acolhedora para as pessoas, especialmente para os pedestres, que são os principais usuários”, afirma a arquiteta.

Valorização paisagística da rua Bocaiúva será ponto forte da revitalização

A valorização paisagística da rua Bocaiúva será outro ponto forte da revitalização. Com a fiação subterrânea, a via se tornará visualmente mais limpa e organizada. O uso de materiais de alta qualidade e o design diferenciado dos elementos urbanos visam embelezar a área, que também contará com arborização para trazer mais vida e sombra ao espaço.

Croquis da Rua Bocaiúva preveem espaços para passeio e convivência, além de acessibilidade – Foto: Germano Rorato/ND

“A proposta é para um ordenamento paisagístico da fiação subterrânea e da sinalização. Reforçando que, com a fiação sendo subterrânea, ganhamos mais espaço, porque os postes de fiação aérea são mais robustos, além de garantir uma iluminação mais adequada para a altura dos pedestres.”

O projeto ainda busca incentivar a “vida na rua” ao promover a integração entre o espaço público e o privado. Isso será feito com o uso dos recuos para atividades comerciais e a abertura de portas e fachadas para o espaço público, criando uma conexão entre os estabelecimentos e as pessoas. “É um desejo nosso que consigamos reverter a maior parte dos térreos em operações ativas. São sugestões para tornar o ambiente mais atrativo.”

A segurança também é uma prioridade do projeto. A corretora de imóveis Natália Simão precisa passar todos os dias pela rua para chegar ao trabalho. Apesar de considerar a rua uma das melhores do Centro para transitar, ela declara que a sensação de insegurança existe em alguns horários do dia. “Dependendo do horário, tenho um pouco de medo de andar sozinha. À noite, por exemplo, não tenho coragem. Se preciso passar, escolho a Beira-Mar. Uma iluminação melhor já resolveria parte do problema”, opina Natália.

O projeto ainda busca incentivar a “vida na rua Boacaiúva” ao promover a integração entre o espaço público e o privado – Foto: rua

A empresária Patrícia Linhares, que há mais de 26 anos comanda a agência de viagens Universal Turismo, na Bocaiúva, testemunhou mudanças significativas na rua ao longo dos anos. Como integrante do Movimento Bocaiúva, ela enfatiza a importância da segurança na região e como o projeto visa agregar a essa questão.Segundo Patrícia, o setor privado já está desenvolvendo melhorias na iluminação e na instalação de câmeras de segurança no local.

“Isso será feito de imediato. Além disso, há planos para podar a vegetação ao longo do trecho paralelo às avenidas Trompowsky e Oton Gama D’Eça, pois a fiação exposta e a vegetação densa dificultam a iluminação, tornando a área muito escura”, explica.

Patrícia exemplifica a situação citando um colégio na rua, onde os pais preferem buscar os filhos de carro, mesmo morando perto, devido à falta de iluminação à noite.Na última semana, o grupo se reuniu com o comandante do 4º BPM (Batalhão de Polícia Militar), tenente-coronel André Rodrigo Serafin, para debater e definir os detalhes de implementação das medidas propostas.

“Sugerimos um estudo técnico para identificar os pontos onde devem ser instaladas mais câmeras. Também propusemos uma parceria público-privada, similar à que existe na praça Celso Ramos”, explica o comandante.

O movimento de revitalização, no qual a CDL (Câmara de Dirigentes Lojistas) de Florianópolis participou ativamente no passado e se engaja novamente agora, reflete o compromisso da entidade com o desenvolvimento urbano. Segundo o diretor de Assuntos Públicos e Políticos da entidade, Célio Philippi Salles, a retomada dessa discussão reforça a importância de revitalizar uma área já valiosa. “Vários grandes empreendimentos estão sendo preparados para serem lançados na região, assim como o parque Marina Beira-Mar.”

A CDL reafirma que o tema é prioridade, destacando o impacto positivo que essas iniciativas trarão para a comunidade. “Cabe buscar alinhamento sobre quais soluções implementar e atuar conjuntamente em busca dos recursos públicos municipais e estaduais, além dos privados, para que a revitalização seja viabilizada o mais rápido possível. A região merece”, ressalta Salles.

Em nota, a Prefeitura de Florianópolis informou que “está estudando a viabilidade de recursos para a implementação de melhorias urbanísticas na região da rua Bocaiúva, seguindo o projeto de revitalização previamente elaborado e apresentado ao município por diferentes entidades”.

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