Temporada das baleias-francas chega ao auge e já registrou 4 filhotes semi-albinos, de coloração rara, na costa brasileira.

Setembro é o auge da temporada das baleias-francas no Brasil

Baleia-Franca com filhote semi-albino, avistados em Arraial do Cabo, RJ, em 19/07/2024 - Imagem Marcelo Gah
Baleia-Franca com filhote semi-albino, avistados em Arraial do Cabo, RJ, em 19/07/2024 – Imagem Marcelo Gah.

Não é difícil baleias-francas semi-albinas serem avistadas todos os anos no litoral catarinense, mas a ocorrência é considerada rara. Contudo nesta temporada 2024, quatro deles já foram registrados. Os registros ocorreram em Arraial do Cabo, no Rio de Janeiro, e em Santa Catarina. Foi um registro em Arraial do Cabo, no dia 19 de julho, no mesmo dia um em Santa Catarina, e posteriormente  mais dois outros indivíduos foram registrados, também em Santa Catarina, de acordo com Karina Groch, Diretora de Pesquisa do ProFRANCA, com sede em Imbituba (SC) e patrocínio da Petrobras.  A região sul do Brasil, especialmente a costa de Santa Catarina, é área de concentração reprodutiva das baleias-francas, de julho a novembro com pico em setembro. “Este ano elas chegaram mais cedo, ainda em Maio e além disso elas vem sendo registradas em grande número e com distribuição mais ampla que em outros anos, com avistagens também no sudeste e até na costa da Bahia”, explica Karina.

Filhote semi-albino registrado em Santa Catarina, durante sobrevoo realizado em 19/07/2024, pela SCPar Porto de Imbituba, executado pela Acquaplan em parceria com o ProFRANCA/Instituto Australis. Imagem: Mariana Silvano/Acquaplan/SCPar Porto de Imbituba

Normalmente as baleias-francas possuem o corpo todo preto. Entretanto podem apresentar cinco padrões com variações de coloração: preto, preto com manchas brancas, preto com manchas cinzas, preto com manchas cinzas e brancas, e semi-albino (ou albino parcial). As manchas no dorso também podem auxiliar na foto-identificação. As manchas são uma característica genética. No caso do semi-albinismo, é associado a indivíduos com o cromossomo X alterado. Para um filhote nascer semi-albino a mãe precisa ter mancha cinza. Além disso, uma vez que machos apresentam apenas um cromossomo X, existe maior chance de que indivíduos parcialmente albinos sejam macho. Porém, já houve registro de baleias-francas com albinismo parcial fotografadas com filhotes na África do Sul, na Argentina e ano passado no Brasil.

Indivíduos com coloração branca já foram observados em várias espécies de cetáceos (que são as baleias, botos e golfinhos), mas as baleias-franca-austrais são a única espécie em que tais indivíduos são relativamente comuns. O corpo do indivíduo albino parcial, é principalmente branco ao nascer, possuindo pintas pretas, as escurece após os primeiros meses de vida tornando-se marrom ou cinza porém mantendo distinguíveis as pintas pret

Raro registro de uma fêmea semi-albina no litoral catarinense, ocorrido em 2023. A presença do filhote confirmou tratar-se de uma fêmea., apesar da predominância de nascimentos de sexo masculino em individuos semi-albinos.

Em 2023 o registro de uma baleia semi-albina adulta chamou a atenção dos pesquisadores do ProFRANCA. De acordo com Karina Groch, “ela estava acompanhada de um filhote, e, portanto foi possível verificar se tratar de um indivíduo fêmea, ocorrência que é muito rara para esta forma semi-albina”. No reino animal é muito comum que animais albinos tenham uma menor sobrevivência por chamarem mais a atenção de predadores, ou não possuírem um sucesso reprodutivo pelo fato de fêmeas evitarem esses animais. “Observar uma fêmea semi-albina nos fornece duas informações importantes: que os machos semi-albinos são capazes de reproduzir, uma vez que o pai desta baleia obrigatoriamente era um macho semi-albino, e que as fêmeas semi-albinas são também recepcionadas por machos não semi-albinos, uma vez que o fato do filhote desta baleia ter nascido de coloração escura indica que seu pai é um macho de coloração preta”, informa Eduardo Renault, Gerente de campo do ProFRANCA.

Nos 37 anos pesquisando a espécie de forma sistemática no sul do Brasil, informações sobre estes indivíduos mostram como sobrevoos podem ampliar o conhecimento sobre essa espécie. A maior incidência de indivíduos com manchas cinza e semi-albino pode indicar um aumento na frequência desta característica na população, o que pode ser um forte indício de aumento na variabilidade genética da espécie, complementa Eduardo Renault. Isso é importante para a recuperação populacional, uma vez que a população da espécie foi extremamente reduzida pela caça até quase a extinção, e está se recuperando lentamente.

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