Multiplicação de capivaras em bairro de Florianópolis deixa moradores em alerta

Moradores do Itacorubi, região central de Florianópolis, se preocupam com uma certa “invasão” de capivaras em áreas urbanas. Entre os incômodos, a presença em vias, a destruição de canteiros, jardins e os riscos de doenças, em especial a febre maculosa, transmitida por um carrapato que se hospeda na capivara.

Famílias de capivaras vivem nas áreas urbanas e invadem ruas movimentadas e jardins – Foto: Germano Rorato/ND

O biólogo Maurício Graipel lembra que Santa Catarina tem muitas unidades de conservação que propiciam a procriação de espécies mais comuns e, ao se reproduzir, se aproximam de casas. Graipel acredita que capivaras não são um problema e sugere que seja levantada a situação na Ilha para orientar formas de manejo e controle do animal quando necessário.

Dona de casa, Liliane Medeiros, 39 anos, do Itacorubi, conta que entre março e abril deste ano, as capivaras começaram a aparecer em maior número. “Destroem todo tipo de jardim. Me preocupa em relação à Zoe [cachorro da Liliane] por causa dos carrapatos”, declara. Para evitar a invasão, os prédios da região investem em mais cercas.

Outra moradora do local, que pediu para não ser identificada, lembra que as famílias comeram canteiros, plantas e arbustos do condomínio dela. “Está sem controle, proliferando mesmo. A gente vê na rua, daqui a pouco estão lá na frente perto do hotel [Mercure]. Eu já vi mais de 20 juntas”, diz. “Temos relatos de que cercaram o Jardim Botânico para elas não ficarem lá e agora estão vindo para cá. Está preocupante a situação”, completa.

A secretária Tatiana Fernandes, 45, reitera que as capivaras começaram a destruir plantas depois do cercamento do Jardim Botânico. “Passaram a viver no entorno dos condomínios. Nós temos que correr atrás e buscar solução para esses animais que ficam jogados no meio da rua”, registra a moradora do Jardim das Garças, rua Acelon Pachêco da Costa. Para ela, os órgãos públicos devem agir. “Também amo os animais, mas eles merecem uma vida digna e não viver jogados em qualquer lugar.”

Cercamento do Jardim Botânico

A Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Florianópolis, que administra o Jardim Botânico, informa que o cercamento serve para delimitar a extensão do terreno, trazendo mais segurança. Destaca que é da natureza de um Jardim Botânico a criação de coleções, cultivo e exposição de ampla diversidade de plantas, para apreciação, pesquisa ou atividades de educação ambiental, e não tem foco em espécies da fauna.

Para Ibama, é preciso comprovar transtornos significativos

O Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos) informou, em nota, que o manejo, ou a retirada de animais silvestres de vida livre, ocorre somente com autorização do órgão ambiental. “Para isso, é necessária a comprovação de que a espécie está causando transtornos significativos de ordem econômica ou ambiental, ou dados que apontem para o risco à saúde pública”, ressalta o texto.

Capivaras se multiplicam na Capital e preocupam população do Itacorubi – Foto: Germano Rorato/ND

A posição do Ibama, no caso das capivaras, é de que, até o momento, não há dados ou indicativos de desequilíbrio ambiental ou de que a capacidade de suporte do ambiente atingiu o limite em Santa Catarina. “O diagnóstico da situação é imprescindível para o Ibama fazer a análise do manejo a ser proposto, cabendo ao afetado realizar o diagnóstico prévio e posteriormente implementar as medidas de manejo aprovadas”.

Ressalta ainda que a instrução normativa do Ibama 141/2006 determina que a captura para intervenções, remoção ou eliminação de animais só deve ser realizada depois de esgotadas as medidas de manejo ambiental. “Cabe ao instituto avaliar e autorizar as ações de manejo propostas. O manejo de capivaras em vida livre, normalmente envolve uma ou mais áreas da gestão pública, como saúde, agricultura, defesa civil, turismo e meio ambiente. Medidas para evitar acidentes com capivaras devem ser realizadas pelo poder público local”, declara o órgão.

Riscos e o caminho para soluçõesO biólogo Maurício Graipel, especializado em mamíferos aquáticos, estuda o tema em Santa Catarina há três décadas. Para ele, é preciso pensar em formas de minimizar problemas, considerando que a população de capivaras vem crescendo e vai continuar. “Cada vez mais espécies que não eram comuns estão se aproximando de áreas urbanas e se adaptando a essas condições, porque encontram alimentos, água e abrigo”, salienta. “Além disso, a quantidade de predadores é menor do que na natureza”, completa.

Entre os problemas, ele elenca o risco de atropelamento por veículos. “É um animal de 60 quilos, o dano para o carro é grande, pode acarretar um acidente maior, além de ferir ou matar o animal e nada disso é desejado”, diz.

Liliane está preocupada que animais passem doenças aos cães, como a Zoe – Foto: Germano Rorato/ND

“Quando estão na cidade, em lugares com fluxo intenso de veículos, penso que cabe uma forma de manejo, normalmente, reduzindo a capacidade de reprodução desses animais, por exemplo, com castrações, viabilizando a manutenção de bandos pequenos”. Segundo ele, IMA (Instituto do Meio Ambiente) e Floram (Fundação Municipal do Meio Ambiente) poderiam se unir nesse sentido.

Evitar aproximar-se das capivaras

Outro risco é se aproximar dos bichos. “As pessoas não veem risco num animal selvagem, mas eles podem ser imprevisíveis se entenderem que precisam proteger um filhote ou território”, destaca o pesquisador. “É melhor não se aproximar, respeitar o espaço desses animais, principalmente com crianças e pets”, completa.

As capivaras é que são hospedeiras de carrapatos, entre eles, os que causam a febre maculosa. Cães, gatos e bois também são hospedeiros desse carrapato. A principal medida, nesse caso, seria monitorar as áreas com capivaras para investigar se têm o carrapato e adotar medidas de contenção.

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