Onde surgiu a Covid-19? Novo estudo reforça teoria sobre as origens do vírus

Quase cinco anos após o surgimento da Covid-19, as suas origens ainda são amplamente debatidas pela comunidade científica internacional. Nesta quinta-feira (19) um novo estudo sobre o tema foi publicado, com novos elementos que reforçam a hipótese de que a transmissão aos humanos foi feita por animais infectados no mercado de Wuhan, na China.

Com amostras colhidas no mercado onde vírus foi identificado pela primeira vez, estudo reforçou hipótese de que a Covid-19 surgiu no local

Com amostras colhidas no mercado onde vírus foi identificado pela primeira vez, estudo reforçou hipótese de que a Covid-19 surgiu no local – Foto: Yuan Zheng/maxppp/Reprodução/ND

Teorias sobre o surgimento da Covid-19

Nunca houve dúvidas que foi na cidade chinesa que apareceram os primeiros pacientes infectados. No entanto, há duas teorias principais sobre a sua origem que se chocam:

  • 1) A de um vazamento de um laboratório, onde se estudavam vírus relacionados à Covid;
  • 2) A de um animal intermediário, que infectou pessoas que frequentavam um mercado local.

O novo estudo reforça a segunda teoria. Ele se baseia na análise de mais de 800 amostras recolhidas neste mercado, onde eram vendidas diferentes espécies de animais selvagens.

Recolhidas em janeiro de 2020, quando o mercado foi permanentemente fechado, as amostras estavam presentes nas superfícies planas e nas bancas do mercado, incluindo as de venda de animais silvestres, bem como nos esgotos próximos do local.

O estudo foi publicado na revista científica Cell e contou com a participação de microbiólogos e biomédicos dos Estados Unidos, Canadá, França, Bélgica, Países Baixos, Reino Unido e Austrália.

Tese de que o vírus teria vazado de um laboratório é enfraquecida após descoberta de novas evidências

Tese de que o vírus teria vazado de um laboratório é enfraquecida após descoberta de novas evidências – Foto: Getty Images/Reprodução/ND

Animais comercializados no mercado serviram de hospedeiros do vírus

O estudo analisou ​​“carrinhos de animais, uma gaiola, um carrinho de lixo, uma máquina para remover pelos/cabelos e penas de um posto de vida selvagem”. Todas testaram positivo para o vírus da Covid-19.

Nessas amostras, foi encontrado “mais DNA de espécies de mamíferos selvagens do que humano”. Espécies como cães-guaxinim, ratos de bambu, civetas, porcos-espinhos e ouriços eram comercializados no local.

O vírus já estava presente em morcegos, mas não na forma que infectou humanos. Para isso acontecer, precisaria passar por um hospedeiro intermediário, cujo organismo serviria como um “adaptador” do vírus ao organismo humano. As espécies cujos DNA foram encontradas são os prováveis ​​hospedeiros intermediários do vírus entre morcegos e humanos.

“Estes dados indicam que os animais presentes neste posto libertaram o vírus detectado no material animal ou que os primeiros casos humanos não relatados de Covid-19 excretaram o vírus exatamente no mesmo local que os animais detectados”, explica o estudo.

Evidências apontam que animais silvestres comercializados ilegalmente no mercado de Wuhan foram hospedeiros intermediários do vírus que infectou humanos

Evidências apontam que animais silvestres comercializados ilegalmente no mercado de Wuhan foram hospedeiros intermediários do vírus que infectou humanos – Foto: Arend Kuester/Flickr/Reproduão/ND

Vírus encontrado no mercado é “geneticamente idêntico” ao da pandemia global

Outro elemento aponta o mercado como ponto de partida para a propagação do vírus. O estudo estabelece que “o ancestral comum mais recente” do vírus encontrado nas amostras – a cepa ou estirpe original – é “geneticamente idêntica” à da pandemia como um todo.

“Isso significa que a diversidade precoce do vírus é encontrada no mercado, como seria de esperar se este for o local de aparecimento” do vírus, disse Florence Débarre, uma das pesquisadoras, à agência de notícias AFP.

Comércio ilegal de animais silvestres

James Wood, epidemiologista da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, destacou a importância do trabalho em identificar a origem da Covid-19 no comércio ilegal de animais silvestres na China.

“[Este estudo] fornece evidências muito fortes que mostram que as barracas de vida selvagem no mercado foram um foco para o surgimento da pandemia de Covid-19. Em escala global, para reforçar a biossegurança laboratorial, pouco ou nada tem sido feito para limitar o comércio de animais selvagens, organismos vivos, a perda de biodiversidade ou alterações nos solos”, manifestou Wood ao Science Media Center.

*Com informações da AFP e do Science Media Center

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