Combate à fome, acesso à água e bilhões de investimento: o que está em jogo no G20 do Brasil

O governo brasileiro anunciou nesta sexta-feira (15) um movimento colaborativo chamado Sprints 2030, que promete ser o “maior esforço coletivo já realizado” para erradicar a fome e reduzir a pobreza. O anúncio faz parte da “Aliança Global contra a Fome e a Pobreza”, uma das prioridades do Brasil como presidente temporário do G20.

Combate à fome, saúde materna e bilhões de investimento: o que está em jogo no G20 do Brasil – Foto: Ricardo Stuckert/PR/Reprodução ND

Fazem parte da iniciativa 41 governos nacionais, 13 organizações internacionais públicas e instituições financeiras, 19 grandes instituições filantrópicas, organizações da sociedade civil, ONGs e outras entidades sem fins lucrativos.

O objetivo dos países, organizações e bancos de desenvolvimento é melhorar o alinhamento e a coordenação para reduzir a fragmentação e dar maior apoio às iniciativas comprovadas, baseadas em evidências e lideradas por governos em larga escala contra a fome e a pobreza extrema.

Os esforços representam a iniciativa voltada para o cumprimento dos ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) 1 e 2.

Aliança contra fome e pobreza acontece em meio a projeções desfavoráveis

Conforme o governo brasileiro, projeções apontam uma diminuição lenta da pobreza para alcançar a meta de 2030. Elas indicam que cerca de 622 milhões de pessoas viverão abaixo do limiar da pobreza extrema de US$ 2,15 por dia em 2030, o dobro do nível da meta.

Caso as tendências atuais se mantiverem, 582 milhões de pessoas viverão com fome em 2030, aproximadamente o mesmo número de 2015, quando os ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) foram adotados pela primeira vez.

“Enquanto houver famílias sem comida em suas mesas, crianças pedindo nas ruas e jovens sem esperança de um futuro melhor, não haverá paz. O mundo produz comida suficiente para todos, e sabemos pela experiência que uma série de políticas públicas bem desenhadas, como as transferências de renda, como o programa Bolsa Família, e as refeições escolares nutritivas para as crianças têm o potencial de acabar com a fome e restaurar a esperança e a dignidade das pessoas”, afirmou o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva.

O presidente do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), Ilan Goldfajn, anunciou um financiamento adicional de US$ 25 bilhões para apoiar a implementação de políticas nacionais no conjunto de políticas da Aliança Global.

“Com o lançamento da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, o Brasil está liderando uma plataforma global para implementar políticas públicas destinadas a erradicar a fome e a pobreza em todo o mundo. O BID tem orgulho de se juntar a essa aliança. Estamos totalmente comprometidos com sua missão e seus objetivos. Juntos, temos o poder de acabar com a pobreza extrema na América Latina até 2030. Com a liderança do Brasil e o apoio dos bancos multilaterais, teremos a estrutura, os recursos e a expertise para transformar nossos compromissos em ações concretas com impacto duradouro”, afirmou,

Quais são os principais objetivos anunciados no G20 do Brasil

Ampliação de transferências de renda

Os programas de transferência de renda serão ampliados com novos compromissos de países como Togo, Chile, Nigéria, entre outros, com objetivo de estender os benefícios para famílias de baixa renda e grupos marginalizados.

Por meio da iniciativa, é previsto o oferecimento de conhecimento, apoio técnico e financeiro aos países que estão criando, desenvolvendo ou expandindo seus programas de transferência de renda, garantindo apoio eficiente e acessível para os mais necessitados, incluindo a criação de sistemas de pagamento digital e registros sociais.

Combate a fome de 150 milhões de crianças diariamente

A alimentação diária de milhares de crianças com refeições escolares nutritivas é um dos anúncios feitos. O objetivo é dobrar esse número de em países de baixa renda, atingindo 150 milhões até 2030.

A Indonésia se comprometeu com um novo programa de merendas escolares nutritivas em larga escala, que alcançará quase 78 milhões de crianças até 2029.

Já a Nigéria, com o maior programa de refeições escolares da África, pretende dobrar sua cobertura para 20 milhões de crianças e integrar fazendas escolares para apoiar a produção local de alimentos.

Bancos de desenvolvimento multilaterais, organizações internacionais, doadores e fundações estão apresentando uma forma nova de trabalho, mais estruturado, a fim de proporcionar apoio a esses governos.

Inclusão socioeconômica

Um dos anúncios da Sprint de Inclusão Socioeconômica busca ajudar cerca de 100 milhões de pessoas a sair da pobreza, por meio de suporte holístico que inclua orientação, microcrédito e treinamento.

Entre outros compromissos assumidos, o novo “Programa Acredita” do Brasil terá como objetivo levar oportunidades de emprego ou empreendedorismo para 6 milhões de pessoas, enquanto o Quênia expandirá seu Programa de Inclusão Econômica para 25 condados, visando 50 mil famílias.

A parceria para PEI (Inclusão Econômica), hospedada pelo Banco Mundial e o BID, podem direcionar bilhões de dólares em investimentos em programas de inclusão econômica liderados por governos, enquanto organizações sem fins lucrativos ofereceram fornecer uma gama de expertise, insights e conhecimentos para maximizar o impacto.

Apoio a pequenos produtores e agricultores familiares

A ampliação do apoio a programas para pequenos produtores e agricultura familiar está entre os anúncios realizados. Estes grupos são responsáveis pela produção de até 70% dos alimentos consumidos em países de renda baixa e média-baixa.

O Brasil se comprometeu, em parceria com as agências da ONU FAO, o IFAD, e o PMA, a lançar uma Iniciativa de cooperação Sul-Sul que conectará agricultores familiares a programas locais de merenda escolar.

O Programa Global de Agricultura e Segurança Alimentar prevê a disponibilização de até US$ 182 milhões em financiamento para combater a fome e a pobreza nos países mais pobres e vulneráveis, e o do FIDA, que busca dobrar seu impacto até 2030, por meio de um programa de trabalho de US$ 10 bilhões até 2027.

Acesso à água para comunidades vulneráveis

O acesso à água para consumo e agricultura em regiões áridas é uma das pautas debatidas no G20. Países como Brasil, Bolívia e Senegal, entre outros governos, comprometeram-se a ampliar soluções de cisternas e irrigação, com a Bolívia, investindo em sistemas de irrigação avançados para aumentar a produtividade das colheitas.

Por meio do compartilhamento Sul-Sul na iniciativa, será buscado reduzir a vulnerabilidade aos choques climáticos e reforçar a produção agrícola em áreas rurais, por meio de tecnologias sociais enraizadas em conhecimentos tradicionais e populares, que são de baixo custo e transformam completamente a vida das famílias pobres, proporcionando-lhes acesso fácil à água.

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