TJ é a única instituição pública no mundo a ter relíquias de Santa Catarina de Alexandria 

Nesta segunda-feira, 25 de novembro, celebra-se Santa Catarina de Alexandria, a padroeira do nosso Estado. Uma das santas mais veneradas da tradição cristã, nascida no Egito no século 3, ela é considerada um exemplo de coragem, sabedoria e fé. A Justiça catarinense é a única instituição pública no mundo a ter relíquias de Santa Catarina de Alexandria. Elas estão expostas na Capela Ecumênica do Tribunal de Justiça.

“Estando as relíquias sob os nossos cuidados, temos a missão de mostrar aos catarinenses quem era Santa Catarina de Alexandria, o que ela defendia e o que a movia, seus valores e sua incrível trajetória de vida”, ressalta a desembargadora Haidée Denise Grin, presidente da Comissão de Gestão de Memória do Judiciário catarinense. Para a magistrada, “Santa Catarina não temeu a morte e, ao mesmo tempo, se entregou à vida, à fé, protegendo quem mais necessitava e lutando por aquilo que considerava justo”.

A história da vinda das relíquias para o TJ remonta à virada do século 20 para o século 21. Dom Gennadios, arcebispo grego ortodoxo da América do Sul, próximo da aposentadoria, fez uma visita protocolar ao então governador Esperidião Amin no Palácio do Governo.

Na reunião, o governador soube que os restos mortais de Santa Catarina estavam preservados no Egito, sob os cuidados do Mosteiro de Santa Catarina, no monte Sinai. O representante do Executivo perguntou: “Existe a possibilidade de o Estado conseguir uma relíquia?”

O monsenhor grego ortodoxo Angelos Kontaxis, morador de Florianópolis, foi o designado para tratar com os monges do monte Sinai. Depois de conversas por telefone, Kontaxis foi ao Egito: levou dois dias de avião até o Cairo, mais oito horas de carro para alcançar o mosteiro. Quem o recebeu foi o abade Damaskinos.

Para ter direito a ganhar a relíquia, Kontaxis foi submetido a um debate teológico. Teve que responder às provocações de 20 monges, do mais novo ao mais velho. Entre tantas perguntas, um deles quis saber dos riscos na oferenda: “Como nós vamos ter certeza que não irão usar esta relíquia como arma psicológica, religiosa ou política?”

O monsenhor precisou de um lampejo para a resposta. “Na capital, Florianópolis, nós temos o mercado público municipal. Ali, temos árabes, judeus, gregos, povos do mundo inteiro. São vizinhos, conversam, no fim do expediente comem juntos.” Perplexos, os monges perguntaram: “Isso existe?” E, assim, o chefe do mosteiro reconheceu a habilidade dialética e teológica do padre. Mas queria, ainda, testar sua fé em Santa Catarina.

Então propôs uma missão: “O senhor vai sair do mosteiro, subir o monte Sinai até onde Moisés recebeu os Dez Mandamentos e trará de lá uma pedrinha”. Aos 76 anos, de bengala e com artrose, Kontaxis cumpriu a missão.

Só que, quando soube que a relíquia iria para a sede do governo do Estado, Damaskinos disse não.

– Como não?

– Política e religião não se misturam. Desta forma, a relíquia não vai! Nada feito.

É nesse momento que entra a participação decisiva da Justiça catarinense. A capela ecumênica estava em construção e o então presidente da Corte, Francisco Xavier Vieira, ofereceu o espaço sagrado para receber a relíquia. A capela, ao contrário de alguns registros, não foi construída com a intenção de receber a relíquia. “Foi uma coincidência extraordinária”, relembra Xavier Vieira.

A capela foi inaugurada em 23 de novembro de 2001, ocasião em que foi instalada a relíquia, com a presença de magistrados, líderes religiosos ortodoxos e católicos e autoridades constituídas. Hoje, o TJ tem duas relíquias de Santa Catarina de Alexandria. Um relicário de prata com um fragmento da 5ª costela direita da santa, com mais de 1.700 anos, conhecido como a “Santa Relíquia”, e o ícone, também um pedacinho de osso. Conforme Pedro Paulo Raimundo, servidor terceirizado do TJ, zelador das relíquias e filho de Kontaxis, o fragmento é considerado uma megalípsana, ou seja, uma megarrelíquia.

A história de Santa Catarina de Alexandria é marcada por fatos extraordinários. Ela nasceu em Alexandria, no Egito, uma importante cidade do Império Romano e centro de cultura e aprendizado na época. De acordo com a tradição, Catarina era uma jovem de grande beleza e inteligência, filha de uma família nobre. Aos 12 anos, converteu-se ao cristianismo. Era extremamente culta.

Quando o imperador Maximino Daia iniciou perseguições aos cristãos, Catarina confrontou-o, defendendo a fé cristã com argumentos filosóficos e teológicos. Impressionado, o imperador convocou 50 filósofos para debater com ela. Se saísse vencedora, poderia professar a fé em Cristo por todo o reino de Alexandria. Catarina os derrotou e, segundo relatos, muitos se converteram ao cristianismo. Ela tinha 17 anos.

Indignado, o imperador ordenou que os sábios fossem queimados vivos em praça pública e Catarina, presa. Cativa, foi humilhada, espancada e chicoteada. Durante dois anos permaneceu sob tortura de soldados, por não se submeter aos costumes e deuses do imperador.

Derrotado em seu propósito, o imperador resolveu condená-la ao suplício da roda – um conjunto de quatro rodas que giravam em sentido contrário umas às outras, recobertas com lâminas em forma de garras. Conta-se que essa foi a maior prova de fé e devoção a Cristo, pois, ao ser levada para praça pública, Catarina fez uma oração para destruir aquele instrumento de martírio.

Logo após a súplica, um raio destruiu as rodas, matando os soldados que as carregavam, enquanto Catarina sobreviveu. Enfurecido, o imperador a enviou novamente à prisão por mais 12 dias, sem água nem comida, para que se entregasse a ele. Ainda assim, Catarina negou-se a casar com o imperador ou mesmo a ajoelhar-se perante seus deuses. Maximino, então, ordenou a decapitação de Catarina no dia 25 de novembro de 307, e até hoje a data permanece como seu dia, em homenagem a sua memória. 

Adicionar aos favoritos o Link permanente.