Metais pesados são detectados na urina de crianças de Brumadinho seis anos após trajédia

Após seis anos da tragédia em Brumadinho, causada pelo rompimento da barragem da Mineradora Vale, completos neste sábado (25), pesquisadores da Fiocruz Minas e da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) divulgaram mais uma etapa do estudo que avalia as condições de vida e saúde da população local. Crianças, de 0 a 6 anos de idade, apresentaram um aumento da taxa de detecção de metais pesados na urina.

Rompimento da barragem em Brumadinho ainda afeta população local, após seis anos de trajédia

Rompimento da barragem em Brumadinho, em 2019 – Foto: Divulgação/Ministério do Meio Ambiente/ND

Tragédia em Brumadinho ainda afeta saúde da população local

Os dados, publicados no portal da Fiocruz, mostram que, em 100% das crianças avaliadas, foi detectada a presença de pelo menos um de cinco metais pesados, sendo eles cádmio, arsênio, mercúrio, chumbo e manganês.

Entre 2021 e 2023, o percentual total de crianças com níveis de arsênio acima do valor de referência passou de 42% para 57%. No entanto, este percentual é ainda maior nas regiões próximas a áreas do desastre e de mineração ativa.

De acordo com a Fiocruz, o estudo, intitulado “Programa de Ações Integradas em Saúde de Brumadinho”, segue duas frentes de trabalho: o “Projeto Bruminha”, com foco em crianças de 0 a 6 anos de idade, e o “Saúde Brumadinho”, voltado para a população com idade acima de 12 anos. Os participantes são acompanhados anualmente desde 2021, visto que o estudo visa detectar as mudanças ocorridas nessas condições em médio e longo prazo.

As análises, divulgadas na última sexta-feira (24), incluem dados de 2023, permitindo a comparação entre os períodos. No primeiro ano, a amostra foi composta por 3.297 participantes, sendo 217 crianças, 275 adolescentes (entre 12 e 17 anos) e 2.805 adultos com mais de 18 anos. Em 2023, foram 2.825 participantes: 130 crianças, 175 adolescentes e 2.520 adultos.

Entre os adultos, o arsênio é o que mais aparece acima dos valores de referência, em cerca de 20% das amostras. Já entre os adolescentes, esse metal é detectado em aproximadamente 9% das amostras. É importante lembrar que, nesse público, dependendo da região de moradia, o percentual de amostras com arsênio acima do limite chega a 20,4%.

Apesar de todos os metais apresentarem um grande percentual de detecção, se comparados os dados de 2021 e 2023, é possível perceber reduções mais relevantes dos valores medianos para manganês e menos para arsênio e chumbo.

Ainda que os níveis estejam mais baixos, há uma manutenção da exposição a esses metais no município, de forma disseminada em todas as regiões investigadas.

Após seis anos de tragédia, prefeitura de Brumadinho ainda luta por justiça e reparação – Foto: Reprodução/R7

Condições de saúde e saúde mental da população de Brumadinho

Outros pontos analisados na pesquisa foram as condições de saúde e a saúde mental da população de Brumadinho. Quando perguntados sobre diagnósticos de doenças crônicas, as respostas mais frequentes dos adolescentes foram asma ou bronquite asmática, mencionadas em 2021 por 12,7% dos entrevistados e por 14% em 2023.

Entre os adultos, foram mencionadas, em 2021, hipertensão (27,9%), colesterol alto (20,9%) e problemas crônicos de coluna (19,7%). Em 2023, a porcentagem aumentou para 30%, 28,5% e 22,8%, respectivamente.

“A pior percepção da saúde é um indicador de extrema importância para avaliação da condição geral da saúde em uma população, refletindo impacto negativo nessa condição entre os moradores das áreas atingidas pela lama e pela atividade de mineração”, destacou o pesquisador da Fiocruz Minas, Sérgio Peixoto, coordenador-geral da pesquisa. “Sobre as condições crônicas, é importante ressaltar a elevada carga de doenças respiratórias e do relato de sinais e sintomas, o que demonstra a necessidade de maior atenção dos serviços de saúde sobre esse aspecto, que pode estar relacionado às condições do ambiente, como disseminação de poeira pela natureza da atividade produtiva”, concluiu.

Em relação à avaliação da saúde mental, 9,9% dos adolescentes relataram que foram diagnosticados com depressão em 2021. Em 2023, o percentual subiu para 10,6%. Entre os adultos, 21,3% relataram diagnóstico médico de depressão no primeiro ano de pesquisa e 22,3% no terceiro ano. Sobre diagnóstico de ansiedade ou problemas do sono, foi reportado por 32,8% dos entrevistados com mais de 18 anos de idade, em 2021, e por 32,7%, em 2023.

“Esses números mostram a necessidade de avaliar as ações voltadas à saúde mental no município, dada a manutenção de elevada carga de transtornos mentais na população, nos dois anos avaliados. Faz-se necessário priorizar estratégias intersetoriais, considerando a complexidade do problema e as especificidades de cada território”, explicou o coordenador ao portal da Fiocruz.

Homenagem prestada pelos bombeiros que trabalhavam nas buscas em Brumadinho

Ao todo, 270 pessoas morreram soterradas pela lama de rejeitos após rompimento de barragem em Brumadinho – Foto: Divulgação/CBMMG/ND

A equipe do ND Mais entrou em contato com a assessoria da Vale, na tarde deste sábado (25), mas não recebeu uma posição da empresa até as 16h50.

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