Estratégia de IA do Pentágono revela esforço dos EUA para “manter” supremacia tecnológica global

O Departamento de Defesa dos EUA divulgou esta semana um plano sobre a adoção acelerada de sistemas de IA nas operações militares. A criação da estratégia é lógica, mas carece de garantias sobre o uso ético desta tecnologia na guerra, diz a investigadora Gloria Shkurti Ozdemir, da Fundação SETA, um think tank com sede na Turquia.
 
O Pentágono divulgou na quinta-feira (1º) uma nova estratégia abrangente sobre a integração de sistemas de inteligência artificial (IA) em suas capacidades de combate, com o documento focando no uso de IA para obter o que é conhecido como “vantagem de decisão”, facilitando uma consciência superior do espaço de batalha, planejamento adaptativo de força e aplicação, “cadeias de eliminação rápidas, precisas e resilientes” e apoio de sustentação resiliente.
 
A estratégia se concentra e dá prioridade à velocidade, “maior integração, transparência e partilha de conhecimento através das fronteiras organizacionais” e destaca a necessidade de “medidas de proteção rigorosas” para evitar a exploração das vulnerabilidades técnicas das tecnologias de IA.
 
O debate global sobre a utilização da IA em armas tem como foco principal a discussão ética — especificamente na perspectiva de retirar os seres humanos do processo de tomada de decisão quando se trata de tirar a vida de uma pessoa.
 
“A principal ameaça ligada à IA reside no seu potencial uso antiético, que pode causar danos a civis que não estão protegidos”, disse à Sputnik a investigadora Gloria Shkurti Ozdemir, da Fundação SETA.
 
“Por exemplo, o conceito de sistemas de armas letais autônomas (LAWS, na sigla em inglês) é preocupante porque estes sistemas podem atingir indivíduos sem controle humano. Além disso, a IA poderia ser explorada para ataques cibernéticos, biológicos, nucleares e outras ameaças”, disse a pesquisadora.
 
Mas o verddeiro perigo decorrente da IA não é a tecnologia, mas “como ela é utilizada”, segundo Ozdemir.
 
“Vejamos os drones, por exemplo, especialmente na sua utilização pelos EUA no Oriente Médio. Quando implantados de forma antiética, resultaram na perda de inúmeras vidas de civis. No entanto, se usados de forma ética e cautelosa, os drones podem ser ferramentas essenciais e eficazes em operações militares.”
 
Assim, a observadora acredita que, embora as considerações éticas e a utilização responsável devam ser uma área importante de foco na determinação do impacto da IA, “infelizmente, a estratégia não as aborda” de forma alguma.
 
Em vez disso, observou Ozdemir, o novo plano do Pentágono parece centrar-se no ambiente organizacional e na melhoria da capacidade dos militares dos EUA de tomarem decisões rápidas.
 
A nova estratégia se baseia no conceito de Comando e Controle Conjunto Combinado em Todos os Domínios (CJADC2, na sigla em inglês) — cujo significado basicamente se resume em melhorar a integração das operações militares “em diferentes domínios para uma tomada de decisão mais rápida e coordenação aprimorada entre vários componentes militares”, disse Ozdemir.
 
Sabe-se que a China está trabalhando em um conceito semelhante, conhecido como Guerra de Precisão em Vários Domínios (MDPW, na sigla em inglês).
 
Na verdade, diz Ozdemir, o lançamento da sua nova estratégia de IA pelo Pentágono na quinta-feira, combinado com a ordem executiva do presidente Biden sobre IA na segunda-feira (30), está ligado a uma preocupação entre os decisores políticos norte-americanos de manter a supremacia dos EUA na corrida global à IA.
 
“Há uma corrida contínua à IA, não apenas confinada aos avanços militares, mas também abrangendo a governança, regulamentos e padrões globais. Esta competição não envolve apenas os EUA e a China; se estende aos aliados, embora em grande parte tacitamente”, incluindo a União Europeia (UE) e o Reino Unido, explicou a investigadora.
 
“Portanto, neste contexto, se os EUA não derem passos significativos, poderão se ver vinculados a regras estabelecidas por outros intervenientes globais. Consequentemente, estes desenvolvimentos recentes indicam os esforços dos EUA para manter a liderança nas esferas militar e civil da IA, com o objetivo de manter a sua supremacia tecnológica global”, resumiu Ozdemir.
 
Quanto à ética, esta, infelizmente, parece ser uma questão que será deixada para acadêmicos, filósofos e escritores de ficção científica, e não para os decisores políticos.
 
 
 
Fonte: Sputniknews.com.br
 
 
 
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Geopolítica e Exopolítica por Ana Lucia Ratuczne
 
Notícias, análises e história envolvendo relações de poder entre os Estados e territórios, considerando as vias políticas, diplomáticas e militares, como também o estudo político dos principais atores, instituições e processos associados à vida extraterrestre. Todas as quintas-feiras.
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