Avião presidencial decola do Egito rumo ao Brasil com o grupo de Gaza

Instantes atrás, às 6h51 no horário de Brasília, a aeronave VC-2, da Presidência da República, decolou do Egito rumo ao Brasil. A bordo, 32 passageiros que deixaram a Faixa de Gaza no domingo (12/11) e cumprem agora a última etapa do voo de repatriação do Governo Federal. São 17 crianças, nove mulheres e seis homens: 22 brasileiros e dez palestinos familiares dos brasileiros trazidos no décimo resgate da zona de conflito no Oriente Médio.

Acredito que vocês vão iniciar uma bela etapa de uma nova vida. Vocês podem contar com o Estado Brasileiro, com o Itamaraty, com as instituições do Brasil. Vocês vão ver o abraço que o Brasil vai dar em vocês assim que vocês chegarem”

Fernando Bastos Neto, primeiro-secretário da Embaixada Brasileira no Egito

Um dos rostos mais conhecidos do grupo, Hasan Rabee postou em seu perfil no Instagram parte desse trajeto, com imagens no ônibus alugado pelo Governo Brasileiro na saída do hotel, a chegada ao Aeroporto Internacional do Cairo e o deslocamento no terminal rumo à aeronave. “Já estamos no aeroporto. Daqui a pouco vamos embarcar e seguimos viagem até Brasília”.

Desde que cruzaram a fronteira entre Gaza e o Egito após uma espera de mais de três semanas pela permissão das autoridades envolvidas na guerra, os 32 fizeram a imigração e foram transportados em vans fretadas pela Embaixada Brasileira no Egito até Al-Arish. Lá, almoçaram e tiveram um rápido momento de lazer na praia. Chegaram ao Cairo já à noite, foram recepcionados por equipes médicas e de psicólogos, jantaram, dormiram e tomaram café da manhã nesta segunda, antes de seguirem viagem, sempre acompanhados por equipes de diplomacia nacional.

“Esse é o momento mais importante da minha carreira. Tenho muito orgulho de ter feito parte da missão de evacuação de vocês. Fiquei muito feliz de conhecer vocês, de olhar nos olhos, de escutar as histórias. Acredito que vocês vão iniciar uma bela etapa de uma nova vida. Vocês podem contar com o Estado Brasileiro, com o Itamaraty, com as instituições do Brasil. Vocês vão ver o abraço que o Brasil vai dar em vocês assim que vocês chegarem”, afirmou ao grupo Fernando Bastos Neto, primeiro-secretário da Embaixada Brasileira no Egito, pouco antes do desembarque no aeroporto.

Quando o VC-2 tocar o solo da Base Aérea de Brasília, a Operação Voltando em Paz completará 1.477 passageiros e 53 animais domésticos resgatados. Cerca de 150 militares e 37 profissionais de saúde (13 médicos, nove psicólogos e 15 enfermeiros) se envolveram na logística. Mais de três mil refeições foram servidas em 315 horas de voo sobre 16 países. Na rota até Brasília, estão previstas duas paradas técnicas do VC-2: uma em Las Palmas, na Espanha, e uma segunda já em solo brasileiro, em Recife, na capital pernambucana. Originalmente, havia também uma parada técnica prevista em Roma, na Itália, mas foi possível suprimir a escala.

 

Grupo de repatriados ao lado de representantes da Embaixada do Brasil no Egito na reta final de preparativos antes do embarque. Fotos: GOV BR

ACOLHIMENTO – Na chegada ao Brasil, o Governo Federal tem uma operação de acolhimento preparada. Em complemento ao apoio de suas famílias no Brasil, eles terão à disposição serviços de abrigo, documentação e alimentação, além de apoio psicológico, cuidados médicos e imunização. Ficarão dois dias hospedados em Brasília para descanso numa estrutura da FAB.

“Há todo um esquema de recepção. Um sistema de apoio e acolhimento em que serão oferecidos identidade, permissão de trabalho, acesso ao Sistema Único de Saúde, à rede de apoio social para refugiados, além da regularização da situação de cada um”, explicou o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, numa coletiva de imprensa neste domingo.

“Alguns brasileiros já têm destino certo porque têm familiares aqui, mas uma parcela significativa, quase metade, não tem onde ficar. O Governo Federal já preparou, por meio do Ministério do Desenvolvimento Social, um local onde essas pessoas ficarão acolhidas no interior de São Paulo”, explicou Augusto de Arruda Botelho, secretário nacional de Justiça do Ministério da Justiça e Segurança Pública.

Não há prazo específico para o atendimento que será fornecido aos repatriados. “Estamos preparados para o tempo que for necessário, para que essas pessoas possam se integrar ao país. Não há prazo limite fixado. Estamos prontos para recebê-los da melhor forma. Eles ficarão em um local com longa experiência de acolhimento de refugiados da forma mais completa, mais digna, sem prazo”, completou Arruda Botelho.

ACOMPANHAMENTO – Durante o período em Gaza, os brasileiros tiveram acompanhamento diário da diplomacia brasileira. Receberam recursos para garantir alimentação, água potável, gás de cozinha e medicamentos e tiveram acesso a atendimento médico e psicológico de forma online. Além disso, foram hospedados em residências alugadas pelo Governo Federal em Khan Yunis e Rafah e fizeram deslocamentos seguros em ônibus fretados pela representação brasileira em Ramala, na Cisjordânia.

Tanto os veículos quanto os imóveis eram identificados e informados às autoridades de Gaza e de Israel para evitar bombardeios. Por meio de aplicativos, os diplomatas mantinham contatos diários com o grupo para identificar necessidades e garantir, dentro da realidade de uma zona conflagrada, que todos estivessem nas melhores condições de saúde.

“Lutamos para que os brasileiros não fossem afetados pela catástrofe humanitária que assola Gaza. Alugamos casas e conseguimos enviar recursos para alimentos, água, gás e remédios no precário mercado local. Oferecemos apoio de psicóloga e médico a distância. Infelizmente, as perspectivas são de rápida degradação das condições de vida e segurança na região de Gaza”, afirmou o embaixador Candeas.

Essa degradação das condições sociais fez com que o ministro Mauro Vieira enfatizasse neste domingo a intenção do Governo Federal de voltar a buscar, no Conselho de Segurança da ONU, medidas que possam conduzir a pausas humanitárias e ao fim de hostilidades na região.

“O presidente Lula continua muito envolvido na solução da questão. Ele tem falado constantemente com chefes de Estado, com o secretário-geral da ONU, com os líderes da região de guerra, enfim, todos os atores importantes. A sua intenção é voltar a tratar da questão no Conselho de Segurança das Nações Unidas a partir desta semana, para que se possa encontrar uma forma de suspensão dessas hostilidades e a criação de uma pausa humanitária que possa levar ao alívio da população civil palestina em Gaza”, afirmou Vieira.

 

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