Por que Collor era chamado de “Caçador de Marajás”?

Caçador de Marajás

Por que Collor era chamado de “Caçador de Marajás” – Foto: Arquivo Nacional/Reprodução/ND

Durante o início dos anos 1990, um nome se destacou na política brasileira: Fernando Collor de Mello. Em 1989, ele foi eleito presidente do Brasil. Mas algo chamava atenção além da disputa eleitoral: Collor se autodenominava o “caçador de marajás”. Mas por que ele tinha esse apelido?

O termo “marajás” foi usado por Collor para se referir a servidores públicos que, segundo ele, recebiam salários muito altos e tinham privilégios excessivos, especialmente em cargos de alto escalão.

A palavra fazia alusão aos antigos nobres da Índia, conhecidos por viverem em luxo. Collor, então governador de Alagoas, ganhou projeção nacional prometendo acabar com esses “marajás” e cortar os gastos públicos considerados abusivos.

“Caçador de marajás”, Collor foi eleito em 1989 com discurso contra a corrupção

A eleição presidencial de 1989 entrou para a história como a primeira com voto direto desde 1960. Em meio à redemocratização, Fernando Collor de Mello, então com 40 anos, surgiu como uma figura nova na política nacional.

Com um discurso liberal e moderno, ele se colocava como alternativa à proposta mais popular e trabalhista de Luiz Inácio Lula da Silva, do PT.

Naquela época, o Brasil vivia uma grave crise econômica. A inflação era altíssima, os juros chegavam a 40% ao mês, e o país enfrentava também uma crise de confiança nas instituições. O próximo presidente teria a difícil missão de recuperar tanto a economia quanto a esperança dos brasileiros.

Caçador de Marajás

Fernando Collor de Mello e a esposa Rosane, no Planalto – Foto: Roosewelt Pinheiro/Agência Brasil

O número recorde de candidatos à presidência refletia o desejo da classe política de retomar espaço após o fim do regime militar: foram 22 no total, número que permanece como o maior da história.

Em meio a tantos nomes, Collor se destacou com um discurso direto contra privilégios e corrupção. Ele ficou conhecido como o caçador de marajás, por prometer combater os altos salários e benefícios de servidores públicos de elite.

Essa imagem de alguém disposto a enfrentar os abusos do funcionalismo público caiu no gosto popular. Collor foi visto como um político jovem, corajoso e moderno, disposto a romper com velhas práticas. Isso foi fundamental para a vitória nas urnas.

Mas o cenário mudou após a posse. Suas medidas iniciais, como o confisco das poupanças dos brasileiros, causaram forte rejeição. Em pouco tempo, a popularidade desabou.

Caçador de marajás foi investigado e preso por corrupção

Mesmo com um discurso firme contra a corrupção e os privilégios da elite, Fernando Collor de Mello, que se projetou como o caçador de marajás, acabou tendo sua imagem marcada pelos escândalos que levaram à sua queda.

O ponto de virada veio em 1992, quando seu próprio irmão, Pedro Collor, fez graves denúncias contra o presidente. Ele revelou um esquema de corrupção comandado por Paulo César Farias, o PC Farias, tesoureiro da campanha e homem de confiança de Collor.

Segundo as acusações, PC Farias controlava um caixa paralelo, usado para beneficiar aliados e bancar o estilo de vida luxuoso da família presidencial.

Uma das provas mais simbólicas do caso foi a compra de um carro modelo Fiat Elba, feita com dinheiro desviado por meio das contas operadas por PC Farias. O veículo se tornou o símbolo do escândalo que culminou no processo de impeachment do caçador de marajás.

Caçador de Marajás

Caçador de marajás, Presidente Collor deixa a presidência em 1992 – Foto: Elza Fiuza (ABR/fotos públicas)

Outro elemento marcante do caso foi a famosa “Casa da Dinda”, mansão localizada em um dos bairros mais nobres de Brasília. Assim como o Fiat Elba, a casa também teria sido financiada com recursos de origem ilegal.

Esses episódios enfraqueceram de vez o governo Collor e mostraram o contraste entre o discurso moralista da campanha e a realidade de seu mandato, encerrado de forma precoce e manchado por denúncias de corrupção.

Collor é preso por corrupção na Operação Lava Jato

Em 25 de abril de 2025, o ex-presidente Fernando Collor de Mello foi preso em Maceió, Alagoas, durante a madrugada. A prisão ocorreu após a rejeição do último recurso apresentado por sua defesa no STF, pelo ministro Alexandre de Moraes.

Collor havia sido condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no âmbito da Operação Lava Jato.

A condenação está ligada a um esquema de corrupção envolvendo contratos irregulares entre a BR Distribuidora, empresa ligada à Petrobras, e a construtora UTC Engenharia. De acordo com o processo, Collor recebeu vantagens indevidas em troca de apoio político para nomear e manter diretores na estatal.

A pena determinada foi de oito anos e dez meses de prisão. Segundo a denúncia, o ex-presidente contou com o apoio dos empresários Luis Pereira Duarte de Amorim e Pedro Paulo Bergamaschi de Leoni Ramos para operar o esquema.

A prisão do caçador de marajás marcou o mais recente capítulo de sua trajetória política, que começou com promessas de combate à corrupção e terminou com múltiplas acusações envolvendo justamente o que ele dizia combater.

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