
À esquerda, a orientadora Maria Lucia, no meio, Tiago Coimbra, e a direita, a professora Silvana Aguiar, coorientadora da tese. Foto: arquivo pessoal
A tese intitulada Interpretação em equipe no contexto de conferência: perfil profissional para formação de intérpretes de Libras-Português, realizada na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), foi vencedora do prêmio da Associação Brasileira de Pesquisadores em Tradução (Abrapt), em março deste ano. A pesquisa teve origem com a tese de doutorado de Tiago Coimbra, que é egresso do Programa de Pós-Graduação em Estudos da Tradução (PGET) da UFSC, e destacou-se por sua abordagem de trabalho em equipe em contexto de conferência.
A pesquisa combinou rigor metodológico com uma proposta formativa baseada em competências e aprendizagem situada. A professora Maria Lúcia Vasconcellos, orientadora de Tiago em sua pesquisa, salienta que esta abordagem é particularmente relevante por preencher uma lacuna na formação de intérpretes de Libras-Português e por contribuir para a acessibilidade linguística em eventos acadêmicos e institucionais, alinhando-se às políticas de inclusão de pessoas surdas.
Para desenvolver a pesquisa, foi mapeada a literatura acadêmica sobre interpretação em equipe; revisadas as diretrizes de associações profissionais da área; e foram pesquisadas as crenças de intérpretes experientes de conferência que atuam com línguas de sinais.
As diretrizes utilizadas na pesquisa foram trazidas da Associação Internacional de Intérpretes de Conferência (AIIC), da Associação Profissional de Intérpretes de Conferência (APIC) e da Federação Brasileira das Associações de Profissionais Tradutores e Intérpretes e Guia-Intérpretes de Língua de Sinais (Febrapils).
A análise comparativa dessas fontes permitiu a identificação de dez competências essenciais para a interpretação em equipe, incluindo cinco transversais e cinco específicas, distribuídas entre as fases de pré-conferência, interpretação e pós-conferência.
Com base nesses resultados, a pesquisa propõe um Plano de Ensino estruturado em seis Unidades Didáticas (UDs), visando o desenvolvimento de competências por meio de “tarefas de interpretação” e projetos de interpretação em contextos reais. Esse material didático busca preparar intérpretes para enfrentar os desafios específicos da atuação em equipe em interpretação de conferências, promovendo maior acessibilidade linguística em eventos acadêmicos e institucionais.
A pesquisa propõe um modelo de formação mais específico e alinhado à realidade profissional. Para o autor, essa especialização é uma tendência crescente. “A tendência é que os profissionais se concentrem em áreas específicas de atuação, oferecendo um trabalho de mais qualidade”, explica Tiago Coimbra.
Para Tiago, o prêmio representa o reconhecimento de uma trajetória de dedicação que atravessou cinco anos de doutorado, incluindo o período da pandemia, além de valorizar o trabalho de orientação e a contribuição coletiva para a área. “Esse prêmio reconhece os estudos e as pesquisas que estão sendo realizadas nesse campo temático e valida que as pesquisas sobre interpretação de Libras-Português não podem ser ignoradas”, afirma.
A conquista simboliza um avanço no reconhecimento das línguas de sinais dentro do campo dos Estudos da Tradução, onde, por muito tempo, ocuparam um espaço marginal. “O prêmio demonstra que as contribuições dos trabalhos com língua de sinais são de fato significativas e devem ocupar um espaço de prestígio”, destaca Tiago.
O prêmio marca um momento histórico para a área de Estudos da Tradução e Interpretação de Língua de Sinais (ETILS), sendo o primeiro concedido pela ABRAPT. A coorientadora da tese, professora Silvana Aguiar dos Santos, aponta que a recente premiação contribui para ampliar a visibilidade e o prestígio das pesquisas com foco em línguas de sinais, validando a maturidade científica da área. “Nesse sentido, as pesquisas sobre Libras podem mostrar que não devem ser pensadas somente pelo aspecto social, mas também como uma importante contribuição teórica e metodológica ao campo de estudos da tradução e dos estudos da interpretação”.
Silvana destaca que o reconhecimento deste trabalho pela ABRAPT possui um impacto significativo para a UFSC e seu campo acadêmico de tradução e interpretação. “A UFSC tem uma caminhada histórica fortalecida com relação ao campo das línguas de sinais, das comunidades surdas e da tradução e interpretação”, afirma Silvana.
A Pós-Graduação em Estudos da Tradução (PGET) da UFSC foi o primeiro programa stricto sensu em Estudos da Tradução do país, criado em 2003. O prêmio concedido a um egresso e ex-servidor da UFSC impacta positivamente o reconhecimento público da qualidade científica da pesquisa desenvolvida na instituição, projetando a imagem do campo em cenários mais amplos e contribuindo para o desempenho da universidade em rankings nacionais e internacionais.
Carreira
A trajetória de Tiago Coimbra Nogueira é intrinsecamente ligada à UFSC. Ele é egresso de múltiplos níveis na Universidade, tendo se graduado em Letras-Libras, e concluído o mestrado e o doutorado em Estudos da Tradução (PGET). Atualmente professor na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Tiago chegou a trabalhar na UFSC como servidor técnico, sendo tradutor-intérprete de Libras-Português na instituição.
Mateus Mendonça| [email protected]
Estagiário da Agecom | UFSC