Projeto da UFSC capacita profissionais do país sobre o sistema endocanabinoide

Um projeto desenvolvido na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) está capacitando profissionais de saúde de todo o país sobre o sistema endocanabinoide e as diferentes formas de modulá-lo para melhorar a vida de pacientes. Com a participação de 40 professores de cinco universidades federais, somente no primeiro ano, o curso capacitou de forma remota pelo menos 1.500 pessoas de mais de 20 estados brasileiros.

A iniciativa conta com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa e Extensão Universitária (Fapeu). “A Fapeu contribui na recepção das inscrições e na documentação de todos os trâmites financeiros para que o projeto seja realizado de forma eficaz”, destaca o coordenador administrativo do projeto, Rui Daniel Prediger.

Origem

O projeto foi idealizado pela professora e farmacêutica Dalla Colleta, coordenadora geral da iniciativa e fundadora do Dalla Instituto. Paciente de fibromialgia, que enfrentou um câncer no intestino, e autista, Dalla descobriu na planta Cannabis sativa um alívio para ter qualidade de vida. Foi após muitos estudos que ela fundou o Dalla Instituto, instituição na qual se dedica a levar o conhecimento sobre a Cannabis a outros profissionais da saúde com o objetivo de beneficiar mais pacientes.

Em 2021, ao iniciar o mestrado em Farmácia na UFSC, Dalla conheceu colegas que também pesquisam sobre o tema, surgindo dessa união o curso de extensão em Endocanabinologia. As primeiras aulas começaram em julho de 2023 com uma turma formada por profissionais da saúde, com duração de oito semanas e um total de 120 horas/aulas.

Ao final, para receber a certificação, os alunos precisaram ser aprovados em uma avaliação. Nas três primeiras turmas, participaram mais de 1,5 mil profissionais de saúde de todo o país.

Dividido em oito módulos, o curso capacitou profissionais sobre o sistema endocanabinoide e as diferentes formas de modulá-lo para melhorar a qualidade de vida dos pacientes. “O sistema endocanabinoide foi descoberto na década de 1990, mas infelizmente ainda não está na grade da graduação dos cursos da saúde. O endocanabinoide está presente em praticamente todos os outros sistemas, modulando todos eles, por isso é considerado o “maestro” do nosso organismo. É comum ouvir que um paciente começou o uso de óleo de Cannabis para uma patologia e melhorou de outras coisas”, observa Dalla. “Por isso, para que entendam como o sistema funciona, é importante capacitar os profissionais, pois cada um, dentro da sua área, pode modulá-lo para melhorar a vida dos pacientes”, acrescenta.

Em 2024 foi aberta uma turma específica para farmacêuticos, e estão previstas turmas para profissionais de outras áreas. O curso também aborda gratuitamente o tema para pacientes, como os fibromiálgicos, que, em junho de 2024, tiveram oportunidade de participar de uma capacitação presencial.

Condições especiais

Alunos, técnicos administrativos, residentes, professores e profissionais da UFSC têm condições especiais para participar. Todos aqueles que possuem vínculo ativo na UFSC ou no Hospital Universitário Polydoro Ernani de São Thiago (HU-UFSC) são isentos de taxa de inscrição. Estudantes de outras instituições de ensino superior pagam a metade. “Essa é a forma que encontramos de capacitar os alunos e profissionais da UFSC enquanto esse conhecimento não chega na graduação”, observa o professor Rui Prediger, que é pró-reitor adjunto de Graduação da UFSC.

Embora o foco seja para profissionais da saúde, qualquer profissional que tenha interesse na área pode participar. “Canabidiol não é Cannabis! Canabidiol é apenas um dos mais de 100 canabinoides, dentro das mais de 500 substâncias que a planta produz. Ele sozinho não tem tanta eficácia como ele presente no extrato da planta. Outras moléculas da classe canabinoide também são utilizadas atualmente, como o delta-9-THC, CBN, CBG, THCV. Por isso, falar apenas de canabidiol é um grande erro!”, destaca Prediger.

Em 2023, mais de 1,7 mil produtos feitos à base da Cannabis medicinal foram disponibilizados a pacientes brasileiros e mais de 430 mil pessoas no Brasil fizeram tratamentos com derivados da Cannabis.

“Infelizmente, por muito preconceito com a planta Cannabis, esse conhecimento foi arquivado, mas retornou na última década e tem ganhado força pela pressão popular. Aos poucos, as universidades têm feito seu papel, mas ainda têm muito por fazer”, observa Prediger.

Os professores do curso são das mais diferentes áreas, desde fisioterapeutas, agrônomos, químicos, nutricionistas, médicos, farmacêuticos, biólogos, odontólogos até advogados.

Mais informações pelo Instagram @ufsc.cannciencia.

Esta reportagem faz parte da edição 15 da Revista da Fapeu.

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