

Por que Joinville nunca foi capital de SC e nem cogitada na única tentativa de mudança? – Foto: Carlos Jr/ND
Apesar de liderar em população e economia, Joinville nunca assumiu o posto de capital catarinense. O título permanece com Florianópolis por razões históricas ligadas à ocupação territorial e à consolidação da sede administrativa no período colonial.
A formação das cidades em Santa Catarina está diretamente relacionada à chegada dos portugueses ao Brasil, que iniciaram o processo de colonização a partir do litoral.
Como Florianópolis se consolidou como sede administrativa

Na foto, a Ponte Hercílio Luz na década de 1930 – Foto: Reprodução/ND
O povoamento efetivo do estado teve início em 1637, com a chegada dos bandeirantes à região que viria a ser a capital — Nossa Senhora do Desterro, mais tarde renomeada Florianópolis.
Outras vilas surgiram em seguida. Em 1660 foi fundada a vila de Nossa Senhora da Graça, atual São Francisco do Sul. Já em 1714 foi criado o segundo município de Santa Catarina, Santo Antônio dos Anjos da Laguna, hoje conhecido como Laguna.
“A partir de 1700 temos a criação efetiva da Capitania de Santa Catarina, já desmembrada de São Paulo. À frente está o brigadeiro José da Silva Paes. A capitania é estrategicamente situada na ilha de Santa Catarina, num grande movimento que visava à defesa do Sul do Brasil”, explica a historiadora Dolores Carolina Tomaselli.
Segundo ela, nesse período, a capital já ganha contornos administrativos e militares. “Os portugueses buscam a fortificação da Ilha de Santa Catarina e se cria a estrutura burocrática da capitania”, afirma.
“Há o desenvolvimento da região com os primeiros navegadores e as suas famílias. E há todo um envolvimento digamos assim para se criar mais espaço e se ocupar mais as terras”, complementa.
Quando Joinville surgiu na história
Enquanto isso, o território onde hoje está Joinville permanecia inexplorado. A ocupação do interior só começaria cerca de um século depois. “A instalação do município de Joinville vai se dar em 1851, com a criação da Colônia Dona Francisca, que mais tarde se tornaria a cidade de Joinville”, diz Tomaselli.

O Museu Nacional de Imigração e Colonização é enquadrado pela Alameda Brüstlein, a famosa Rua das Palmeiras. O espaço principal foi construído na década de 1870 para ser a antiga sede administrativa da Colônia Dona Francisca – Foto: Helio Kalbusch/Joinville de Ontem/ND
Esse atraso no processo de ocupação explica, em parte, a ausência de Joinville nas disputas históricas pelo título de capital. “A figura político-administrativa da capital já estava constituída em Desterro, e na história de Joinville nunca houve qualquer movimento para trazer a capital ao município”, afirma.
A única vez em que se cogitou mudar a capital
A única tentativa concreta de mudar a sede do governo ocorreu já no período republicano, em 1989, durante a reformulação da Constituição estadual. Na ocasião, foi discutida a transferência da capital para Curitibanos, cidade situada no centro geográfico do estado.
A proposta fazia parte de um movimento que defendia a criação de um novo estado — o chamado Estado do Iguaçu — para reunir municípios da região Oeste, que se sentiam afastados da estrutura administrativa de Santa Catarina.
A proposta chegou a prever a realização de um plebiscito no início dos anos 1990, mas a consulta nunca foi realizada. “A discussão tomou diversos rumos, mas esbarrou na questão financeira da instalação de uma nova capital, com todo o aparato burocrático necessário, e o tema caiu por terra”, explica a historiadora.
Dois governadores “filhos de Joinville”
Apesar disso, Joinville manteve papel relevante na política estadual. “A cidade sempre teve uma pujança econômica e política muito grande, mas isso nunca se refletiu em articulações para torná-la capital. Tivemos dois governadores que construíram suas carreiras aqui: Pedro Ivo Campos e, mais recentemente, Luiz Henrique da Silveira”, completa.

Luiz Henrique da Silveira – Foto: José Cruz/Agência Senado/ND
Números que mostram a força de Joinville
Mesmo sem status de capital, Joinville lidera em diversos indicadores. Segundo o Censo de 2022, tem 616 mil habitantes, à frente de Florianópolis (537 mil), Blumenau (361 mil), São José (270 mil) e Itajaí (264 mil).

Mesmo sendo a cidade mais populosa do estado e com um dos maiores PIBs, Joinville nunca ocupou o posto de capital. – Foto: Carlos Junior/ND
Em extensão territorial, também supera a capital: são 1.127,9 km², quase o dobro dos 674,8 km² de Florianópolis. A maior cidade em área é Lages, com 2.637,6 km².
No PIB, Joinville aparece em 25º lugar no ranking nacional, com R$ 45 bilhões, de acordo com dados de 2021 do IBGE. No estado, só fica atrás de Itajaí (23º no Brasil), com R$ 47,7 bilhões. Florianópolis aparece em terceiro lugar, com R$ 23,5 bilhões.
Um dado curioso é que Florianópolis e Vitória (ES) são as únicas capitais brasileiras que têm menos habitantes do que o município mais populoso do seus respectivos estados.