

Lula e Putin: presidente reforça parceria com Putin – Foto: Ricardo Stuckert / PR
Na análise de especialistas consultados pelo portal ND Mais, a viagem à Rússia do presidente da República do Brasil reforça a parceria entre Lula e Putin. Por um lado, o presidente Lula pode trabalhar a imagem de liderança global em busca da paz no conflito na Ucrânia. Porém, por outro lado, a aproximação de Lula e Putin expõe as contradições de posicionamentos do chefe de Estado brasileiro.
Nesta sexta-feira (9), Lula e Putin estiveram juntos durante as celebrações dos 80 anos da vitória soviética na Segunda Guerra Mundial. Além do brasileiro, estavam presentes no desfile militar desta sexta-feira (9) o chefe de Estado chinês, XI Jinping, e ditadores reconhecidos como Nicolás Maduro (Venezuela), Díaz Canel (Cuba) e Aleksandr Lukashenko (Belarus).
Ao comparecer à Praça Vermelha, em Moscou, Lula reforçou o compromisso do Brasil com os acordos comerciais entre os países, destacando interesses em áreas como energia, ciência e tecnologia.
Implicações geopolíticas e críticas internas
A presença de Lula ao lado de Putin gerou críticas da oposição, que questiona a proximidade do presidente com um líder acusado de autoritarismo. Analistas políticos apontam que, embora a visita não deva afetar significativamente a imagem internacional do Brasil, pode ser explorada politicamente no cenário doméstico.
Em relação à guerra na Ucrânia, Lula reafirmou o compromisso do Brasil com a promoção da paz e destacou a iniciativa conjunta com a China para a criação do “Grupo de Amigos da Paz” na ONU. Putin demonstrou interesse na proposta, embora ela já tenha sido rejeitada pela Ucrânia e seus aliados ocidentais.
Aproximação de Lula e Putin
A comitiva brasileira embarcou para a Rússia na quarta-feira (7), para cumprir agenda incluindo reunião bilateral entre Lula e Putin. No entanto, a primeira-dama do Brasil, Janja, está no país desde sábado (3) com o papel de representação cultural.
A ida de Lula à Rússia pode diminuir a possibilidade do presidente do Brasil se posicionar como mediador, visto que até o momento ele não foi à Ucrânia. Segundo o Planalto, o chefe de Estado brasileiro espera um convite do presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky.

Lula e Putin: presidente da República durante reunião com o presidente da Federação da Rússia, Vladimir Putin, no grande Palácio do Kremlin, Moscou – Foto: Ricardo Stuckert / PR
Especialistas avaliam cenário internacional
No entanto, na análise do cientista político Waldir Pucci, da Universidade de Brasília (UnB), a imagem de Lula e Putin juntos não prejudica a diplomacia com a Ucrânia.
“A relação Brasil-Ucrânia já está afetada há muito tempo. Não vai ser a visita de Lula a Putin que vai mudar essa situação”, comentou Pucci ao ND Mais.
Considerando o cenário global, Pucci também avalia que a aproximação de Lula e Putin não vá interferir na imagem internacional do presidente brasileiro.
“Internacionalmente, não vejo que a imagem de Lula vá ser prejudicada. São dois líderes de Estado, de países que integram o BRICS. Outros líderes também mantêm diálogo com Putin, como a China e até Donald Trump”, afirmou Pucci.
Por outro lado, o cientista avalia como alta a probabilidade de repercussão em território nacional. Se, por um lado, o presidente brasileiro pode afirmar que busca o diálogo pela paz, a oposição de apontar as contradições da relação Lula e Putin.
“Agora, internamente, sim, isso pode ser explorado pela oposição, principalmente na narrativa de que Lula está se aproximando de um dos autocratas mais conhecidos do mundo”, avaliou o pesquisador da UnB.
O professor de relações internacionais da Ibmec Marcelo Suano compartilha da avaliação de que Lula busca, no cenário doméstico, passar a imagem de liderança global e de potencial mediador do conflito na Ucrânia.
“Internacionalmente, Lula se mostra parcial ao lado da Rússia, o que o desqualifica como mediador. Mas ele seguirá tentando transformar essa aproximação em capital político interno”, afirmou Marcelo Suano, sócio-fundador da consultoria Ceiri (Centro de Estratégia, Inteligência e Relações Internacionais).

Chegada a Moscou do presidente Lula no dia 7 de maio de 2025 – Foto: Ricardo Stuckert/PR
Protagonismo no BRICS e agenda internacional
A visita de Lula à Rússia antecede sua participação na cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC) na China, onde também realizará uma visita de Estado. Neste sábado, (10), Lula embarca para Pequim.
Assim, o Brasil deve buscar fortalecer sua posição no BRICS, que recentemente expandiu para incluir países como Egito, Irã e Arábia Saudita. A presidência brasileira do bloco será exercida em julho, durante encontro no Rio de Janeiro.
A avaliação de Marcelo Suano é que a visita à China e a aproximação de Lula e Putin são tentativas do presidente brasileiro de se mostrar independente. No entanto, o professor alerta que a relação entre os países é de subserviência por parte do Brasil.
“Lula tenta, com essa visita, projetar uma imagem de protagonismo no BRICS. Mas, na prática, o Brasil é apenas um acessório dentro do jogo geopolítico da China e da Rússia,” avaliou Suano.
Como exemplo, o professor cita a recondução da ex-presidente Dilma Rousseff para o comando do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), conhecido como Banco do Brics, em março de 2025.
A continuidade no cargo foi recomendada e avalizada pelo chefe de Estado russo. A indicação para a presidência do banco era da Rússia, mas Putin escolheu a brasileira Dilma Rousseff para um novo mandato frente à instituição.
“É muito melhor um despachante russo lá no banco do Brics do que a Rússia propriamente dita colocar uma personagem lá, já que a Rússia está sob sanções internacionais, desenvolvendo constrangimentos internacionais”, exemplificou Marcelo ao comentar a relação de Lula e Putin.