Como a inteligência artificial está acelerando descobertas médicas, especialmente na prevenção e no tratamento do câncer? Embora este pareça ser um assunto do momento, na carreira do professor Edroaldo Lummertz da Rocha, do Departamento de Microbiologia, Imunologia e Parasitologia da Universidade Federal de Santa Catarina, o tema envolve uma trajetória de mais de uma década dedicada à pesquisa e à compreensão de uma das doenças mais letais no mundo. No livro Câncer, IA e o Futuro da Medicina, o cientista narra, para o público geral, como estudos e técnicas têm sido aplicados para tornar viáveis novas abordagens terapêuticas.
Lummertz convida o público a embarcar em uma jornada científica pela fronteira entre biologia, bioinformática e inteligência artificial, temas centrais nos seus estudos que o levaram a criar o Instituto de Estudos contra o Câncer e a, recentemente, liderar a criação do recém inaugurado Centro de Inovação Biotecnológica e Molecular (CinBio). O centro recebeu aproximadamente R$2,5 milhões em recursos da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação (Fapesc) para a compra de três equipamentos de grande porte, inéditos em Santa Catarina.
A obra é voltada para o público geral e tem como um dos seus objetivos reverter recursos para financiar novos estudos sobre o câncer. O livro tem como base descobertas científicas de ponta, em que o autor revela como o mapeamento celular, a engenharia de tecidos e os avanços da biologia quantitativa estão transformando a maneira como a ciência compreende, diagnostica e trata doenças complexas como o câncer, Alzheimer, doenças autoimunes e outras.

Professor Edroaldo Lummertz
“É cada vez maior a necessidade de desenvolvimento de metodologias computacionais que interpretem esses dados e os transformem em tomadas de decisão, pois a ciência fundamental do câncer e de outras doenças vem gerando um imenso volume de informações. São imagens, dados moleculares e do microbioma que ajudam a compreensão dos mecanismos fundamentais das doenças e permitem o desenvolvimento de estratégias de diagnóstico, tratamento e monitoramento de pacientes”, registra o autor.
Uma destas tecnologias que vêm sendo utilizadas e já tem aplicações estudadas na UFSC é a patologia digital. Junto da inteligência artificial, a área pode contribuir e aprimorar diagnóstico de doenças como o câncer ao transformar lâminas histológicas em imagens digitais de altíssima resolução. Essa tecnologia permite uma análise mais rápida, precisa e consistente dos tecidos, facilitando a detecção precoce de alterações celulares críticas.
“No contexto do Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil, a patologia digital pode ter um impacto significativo, especialmente em regiões com acesso limitado a patologistas. Com o uso de sistemas de análise baseados em inteligência artificial (IA), essas imagens podem ser processadas para identificar padrões complexos que, muitas vezes, passam despercebidos em análises tradicionais. Isso pode ajudar a reduzir a carga de trabalho dos especialistas, permitindo que mais pacientes sejam avaliados de forma eficiente”, indica o professor.