Florianópolis é referência nacional em agroecologia urbana

Projeto aprovado pela Câmara prevê integração entre práticas de hortas comunitárias, feiras de orgânicos e alimentação escolar.
Ataíde Silva, articulador do Pacuca, onde são produzidos alimentos orgânicos - Flávio Tin/ND

Iniciativas como a rede Semear, que já implantou hortas medicinais em mais da metade dos centros de saúde do município; a Revolução dos Baldinhos, que desvia centenas de toneladas de resíduos orgânicos do aterro sanitário; ou o Pacuca (Parque Cultural do Campeche), que todos os sábados oferece produtos orgânicos retirados da horta comunitária em uma feira, são apenas alguns dos bons exemplos que a cidade cultiva. A partir de agora, todas essas práticas estarão integradas através da PMAPO (Política Municipal de Agroecologia e Produção Orgânica), aprovada pela Câmara de Vereadores e em vigor desde o dia 6 de junho.

Com a nova política, o município poderá implantar de forma articulada mecanismos de incentivo aos produtores e à agricultura familiar, como a demarcação de áreas rurais dentro da cidade, a criação de feiras orgânicas nos bairros, a regulamentação de terrenos baldios para a produção de alimentos, além de também ampliar os 30% de alimentos da merenda escolar municipal vindos de agricultura familiar, como já previsto em lei nacional, por exemplo.

Ataíde Silva, um dos articuladores do Pacuca, conta que a iniciativa que hoje ocupa 8 mil m² de uma parte do antigo campo de aviação na avenida Pequeno Príncipe, é mais do que uma horta comunitária para produção de alimentos orgânicos. O local é também ponto de coleta de resíduos orgânicos, que vão para compostagem, e também funciona como espaço pedagógico e de envolvimento comunitário. “Boa parte da nossa produção de orgânico é destinada para o asilo do Seove, também distribuímos alimentos em regiões carentes e todos os sábados realizamos a feira do orgânico do bairro”, conta.

As boas práticas agroecológicas de Florianópolis colocaram a cidade em posição de destaque nacional, sendo referenciada pelo Ministério do Meio Ambiente para sediar evento nacional de capacitação, durante quatro dias, através do projeto voltado para compostagem.  

Com apoio da comunidade

Além de incentivar boas praticas alimentares com a distribuição da produção orgânico e com o recolhimento de resíduos para produção de adubo, o Pacuca também busca fazer o resgate de antigas vocações próprias dos florianopolitanos. “Eu mesmo aprendi a mexer na terra no abrigo de menores, com os Maristas, e hoje o que vemos é que parte dessa cultura que existia na cidade se perdeu. O que queremos é transformar esse espaço em um local também de conservação das nossas raízes”, conta.

O Pacuca atualmente conta com a ajuda de voluntários do próprio bairro, cada um emprestando um pouco de força de trabalho e expertise. O consultor ambiental Jesivan da Silva, morador do Campeche, atualmente trabalha no preparo de brotos de batatas que vão para uma nova área do parque. Ubiratan Saldanha, também do bairro, cuida das mudas de espécies nativas que vão reflorestar área do parque hoje tomada por espécies exóticas, como o pinus, introduzidas na paisagem da cidade na década de 1960.

PMAPO vai além da agricultura

Diferente da agricultura tradicional, as práticas agroecológicas traçadas pela nova política municipal buscam a produção de alimentos integrada à preservação do meio ambiente, respeitando seus ciclos e unindo vários ramos da ciência aos saberes dos povos tradicionais.

Autor do projeto de lei que tornou a PMAPO possível em Florianópolis, o vereador Marcos José de Abreu, o Marquito (PSOL), diz que a política municipal surgiu como um instrumento capaz de dialogar com ações que já estão em execução trazendo para o seio da administração pública uma política de estado, que a partir de agora também estará refletida nas instituições públicas, desde a Saúde, Educação, resíduos sólidos, Secretaria de Obras, geração de renda, entre outros atores.

“A implantação dessa política demonstra maturidade institucional que a cidade vem adquirindo em acolher esses movimentos da cidade e que agora formarão uma grande rede integrada de ações. A política é um marco legal e institucional para a cidade”, explica o Marquito.

Marquito ainda aponta que através da política, a cidade terá ainda mais potencial para se destacar na produção de alimentos sem uso de agrotóxicos. “Temos todas as aptidões para sermos uma cidade livre de agrotóxicos e o que entendemos é que o Estado não pode ser o promotor ou incentivador desses químicos na agricultura, que acabam se refletindo em diversos problemas de Saúde que quem paga é o próprio Estado”, explica.

Hortas medicinais nos centros de saúde 

Em 2016, através de uma campanha para o controle do mosquito da dengue em terrenos baldios, o município de Florianópolis iniciou o incentivo para outra destinação desses locais. A inciativa resultou, em 2017, a criação do Programa Municipal de Agricultura Urbana, que agora será integrado à PMAPO.

A enfermeira Francisca Daussy, da gerência de Vigilância Ambiental e Promoção da Saúde, representa a Secretaria de Saúde no grupo que já vem executando as diretrizes do programa. O grupo se reúne semanalmente, e atualmente tem seu trabalho mais voltado para a implantação dos espaços de hortas, para em um segundo momento passar para a gestão.

“Nesse momento, nós temos um foco que é a questão alimentar que dialoga com o conceito de cidades saudáveis. Nesse momento trabalhamos para a criação dessas hortas, que passam a ser organizadas pela própria comunidade. Em um segundo momento a proposta é trabalhar as feiras orgânicas e até mesmo a geração de renda”, conta.

Como exemplo, Francisca cita a implantação das hortas medicinais, que já estão em pelo menos 26 unidades de saúde do município. “O movimento é muito espontâneo e normalmente nasce de um interesse das próprias comunidades. O que nós fazemos é viabilizar essas iniciativas através das secretarias. E essa articulação é necessária, por exemplo com a Obras, ou com a Comcap”, explica.

Fonte: ND Online. 

Ecologia,

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