‘Elas querem se livrar do filho’, diz Secretário de Barueri sobre mães de autistas

Secretário de Barueri da Educação, Celso Furlan

Secretário de Barueri da Educação, Celso Furlan, participava de reunião da pasta em áudio vazado – Foto: Divulgação/Prefeitura de Barueri

O secretário de Barueri da Educação, na Grande São Paulo, aparece em áudio vazado de uma reunião da pasta na terça-feira (13) acusando mães de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) e com deficiência de colocar estudantes na escola para se livrar dos filhos. A conversa ganhou repercussão nesta quinta-feira (15). Em nota, o político afirma que a gravação foi editada e retirada de contexto.

A educação inclusiva é tema de discussões e lutas de famílias atípicas. Ano passado, pais cobraram do Ministério da Educação (MEC) a homologação do Parecer 50/23, conhecido como Parecer do Autismo. Em 2008, as Organizações das Nações Unidas (Onu) definiu o 2 de abril como Dia Mundial de Conscientização do Autismo.

Na conversa que está circulando, o secretário de Barueri se queixa da quantidade de alunos que precisam de atendimento especial no município e utiliza termos equivocados ao se referir a autistas e pessoas com deficiência.

“Um aluno com problema de autismo significa 20 alunos normais. Não que eu queira descartar, mas nós temos a Casa dos Autistas, que fica em outra secretária, a do deficiente, mas as mães não estão preocupadas com isso. Elas querem se livrar do filho e que nós cuidamos dele. Não é certo”, diz o secretário de Barueri, Celso Furlan.

Secretário de Barueri diz que aluno é “todinho torto”

No áudio, Furlan usou a expressão “todinho torto” para se referir a um estudante com deficiência. “Não tem condição de aprender nada e a mãe leva. Sabe por quê? Para ficar livre, 4h, 5h do filho e nós não temos como”, acusou o secretário de Barueri.

Ainda na mesma conversa, segundo áudio vazado, o responsável pela educação se queixou do aumento no número de estudantes com deficiência e autismo na rede municipal, que teria passado de pouco mais de 700 para 3 mil. Furlan credita isso a pais de outras cidades que estariam falsificando documentos para matricular seus filhos em Barueri.

Ele orienta os funcionários a evitar que isso ocorra. “Tome cuidado para não ficar dando vaga para deficientes porque vocês não toleram mais eles na escola”, declarou o secretário de Barueri.

Deputada diz que falas são capacitistas

A deputada estadual Andréa Werner (PSB), mãe de autista e que foi diagnosticada dentro do espectro, produziu um vídeo repercutindo a fala do secretário de Barueri e à reportagem do portal ND Mais considerou as falar de Furlan como capacitistas, violentas e repletas de preconceito contra as famílias atípicas.

“Autismo não é ‘problema’, como o secretário muito mal classificou. É um transtorno do neurodesenvolvimento. Eu gostaria muito que ele compreendesse que qualquer um é capaz de aprender — mesmo qualquer criança, adolescente ou criança com deficiência pode aprender. Basta que sejam dadas a eles ferramentas para isso”, defendeu a parlamentar da Comissão de Defesa dos Direitos das Pessoas com Deficiência da Assembleia Legislativa (Alesp).

Ela criticou também a acusação do secretário de Barueri de que mães querem se livrar dos filhos. “Muitas delas estão lutando para botar comida na mesa enquanto escola. Essa afirmação é descolada da realidade, parece ideia de quem nunca visitou uma família atípica da periferia, ou uma mãe solo. Escola, na verdade, é uma rede de suporte social para essa mãe”, diz.

Andréa Werner pontuou que para um município de pouco mais de 300 mil habitantes, como Barueri, o número de 3 mil estudantes com deficiência na rede municipal não é “tão anormal assim.”

Furlan diz que falas estão fora de contexto

O secretário de Barueri, Celson Furlan, utilizou o Instagram para se manifestar sobre o áudio. Ele alega que as declarações foram retiradas do contexto original e que o assunto era tema de uma reunião de trabalho, “onde se discutia a criação de ambientes escolares com mais oportunidades de aprendizado e infraestrutura aos alunos com deficiência”, diz nota. O responsável pela educação defendeu que o município é referência em educação inclusiva.

“Acredito firmemente na valorização da diversidade humana e no respeito à dignidade de cada indivíduo, independentemente de suas características. Continuo aberto ao diálogo e sempre disposto a aprimorar a comunicação para que ela esteja alinhada aos princípios de respeito e inclusão que defendo. A Secretaria de Educação de Barueri está de portas abertas para acolher as famílias”, publicou o Secretário de Barueri.

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