História do Sul da Ilha – parte 7

Família Daniel/Chagas e a Pesca no Campeche
Família Daniel/Chagas e a Pesca no Campeche

Na primeira metade do século XX (1947), os irmãos Daniel que viviam da Roça buscaram uma alternativa de subsistência na atividade pesqueira. Se uniram (Chico Doca, Deca Doca, Adriano, Crispim, João Doca, Euzébio e Timóteo) na compra de uma lancha do seu Mapinda do Ribeirão da Ilha, um exímio construtor de embarcações. O valor pago foi de seis mil e quinhentos cruzeiros. Colocaram a lancha na Armação do Pântano do Sul no rancho de pesca do Mané Pedro e passaram a pescar anchovas. Os que não exerciam as atividades pesqueiras também eram sócios do empreendimento por terem contribuído com cotas financeiras. O retorno do investimento estava de vento em popa para usar uma linguagem do homem do mar. Até que surgiu uma proposta de irem desenvolver a atividade pesqueira na praia do Cassino no Rio Grande do Sul, lugar de referência da atividade pesqueira no Sul do Brasil.

Venderam a lancha e se uniram ao cunhado, Hipólito Farias das Chagas, esposo da Maria (Ica), a segunda irmã mais velha. e compraram duas canoas: uma menor de nome corvina e outra maior de nome Albatroz que foi buscada na cidade de Joinvlle. Partiram então para o Rio Grande, exceto Adriano, Timóteo e o João Doca. Adriano tinha a ocupação de professor, Timóteo saíra do Exército e estava prestes a ingressar na Polícia Militar e João Doca estava muito envolvido nas lidas da roça que era a tarefa que mais gostava de fazer. O projeto não vingou. Durou apenas dois anos (1953-1954). Nem todos os planos dão certo, mas a vida continua e a união entre eles também. 
Ao retornarem do Rio Grande a canoa menor foi instalada em um rancho de pesca construído na praia do Campeche, existente ainda hoje, embora não no mesmo lugar. O rancho era nas imediações do famoso bar do Chico, demolido pela Prefeitura em 16/07/2010.

A Canoa maior (Albatroz) foi instalada na praia da Joaquina, bem no canto norte beirando a pedra e margeando as dunas. Crispim Daniel e Hipólito Farias das Chagas ficaram com este ponto de pesca tendo como patrão Lauro Sabino (Seu Lalo) morador do Mato de Dentro e depois o patrão passou a ser o Euzébio Daniel (Binho). Com o tempo a praia da Joaquina que era denominada pelos nativos com o nome de Praia do Canto se valorizou e um senhor de nome Belfor tinha interesse na aquisição da propriedade extremante ao ponto de pesca da canoa Albtroz. Numa certa manhã do ano de 1959 a poderosa canoa Albatroz amanheceu totalmente destruída flutuando aos pedaços entre as pedras do costão da Joaquina. As redes também desapareceram, comoção total. O ponto de pesca acabou e o Crispim voltou a pescar com seus irmãos na praia do Campeche.

Mesmo sendo vitorioso na justiça, Crispim e seus irmãos nunca conseguiram esquecer da bela e poderosa Canoa Albatroz. Em uma ação judicial Crispim foi indenizado mas morreu sem receber a totalidade da indenização que foi de forma parcelada a perder de vista e sem punição ao não cumprimento da sentença, segundo moradores da comunidade.

Borboleta – A nova Canoa.

Alguns irmãos tinham como únicas fontes de sustento da família a agricultura e atividade pesqueira e outros como um complemento indispensável. Ter apenas uma canoa não era o suficiente para a captura do pescado pois ao lado dela agregava-se uma boa parte da comunidade que buscavam ali a sua subsistência. Liderados por Crispim Daniel e Hipolito Farias compraram uma figueira na propriedade do Mané Inácio no morro da Cachoeira do Rio Tavares, fundos da atual Garagem da Empresa Insular. Com mãos habilidosas e ferramentas afiadas (enxó de goiva) uma nova canoa começa a tomar forma. Para o acabamento buscaram na comunidade de Nova Brasília no município de Imaruí de Laguna um senhor, profundo conhecedor da arte de esculpir canoa de um pau só.

Era o ano de 1960 e a figueira se transformou em uma belíssima canoa medindo nove metros e dez centímetros de comprimento. Foi batizada de Borboleta, pois durante os trabalhos do entalhe da madeira uma borboleta aparecia diariamente e pousava em sua bordadura. A partir de então família Daniel/Chagas passou a pescar em abundância.

A canoa de nome Corvina que pescou muita corvina e anchova na Ilha do Campeche foi vendida no final dos anos de 1970 e em seu lugar foi comprada uma outra de nome Carochinha que por um erro de grafia foi registrada como carrochinha

Em meados da década de 1990,Timóteo, o irmão mais moço vende sua cota da sociedade para os demais sócios.

Todos permaneceram unidos na atividade pesqueira mas com a morte de alguns, os herdeiros assumiram os seus lugares até que no ano 2007 ocorreu um conflito e como nada dura para sempre, a sociedade se desfez.

Mesmo sem nenhum documento oficializando a partilha, a canoa Borboleta , seus remos, algumas estivas e uma rede passaram aos herdeiros do Crispim Daniel e de Hipólito Farias

A outra canoa, Carochinha, seus remos, estivas e redes passam a pertencer aos irmãos Adriano, Euzébio, Chico Doca e aos herdeiros de Deca Doca e João Doca. Esses no ano de 2009 compraram uma nova canoa que foi Batizada de Fada (Família Daniel). Com essas duas canoas a família Daniel continua a atividade pesqueira, especialmente a pesca da tainha, em sociedade, na comunidade do Campeche, preservando a cultura da pesca artesanal em nossa cidade.

Que venham as tainhas – cerca rapazi.

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Redação Ducampeche e Hugo Adriano Daniel

Texto: Hugo Adriano Daniel – Professor/Historiador – [email protected]

 

Veja a História do Sul da Ilha – Parte 8.
 

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