
Uma formação gratuita sobre educação inclusiva começou no sábado (3), em Florianópolis. A iniciativa “Diversidade na Sala de Aula”, criada pelo Instituto Domlexia, prepara os professores da rede pública para atender todo tipo de aluno.

As estratégias abordadas na formação podem ser aplicadas a qualquer disciplina e faixa etária, em escolas públicas e privadas – Foto: Ramon Andrade
O programa tem duração de três meses e conta com uma oficina presencial, mentorias quinzenais à distância e uma premiação que elege o melhor plano de aula desenvolvido pelos educadores ao final do curso.
“A gente trabalha estratégias de sala de aula e uma forma de levar conteúdo para os alunos. Então é uma metodologia que funciona tanto para levar conteúdo para o pequenininho, quanto para os jovens quase adultos”, define Nadine Heisler, idealizadora da formação e fundadora do Instituto Domlexia.
Na primeira oficina de educação inclusiva, no sábado, os profissionais participaram de um jogo interativo para refletir sobre os métodos de aprendizagem mais adequados para cada perfil de estudante.

Os professores que participaram da oficina no sábado tiveram um momento de troca e reflexão – Foto: Ramon Andrade
“Esse momento foi maravilhoso porque veio mostrar para a gente que o planejamento não é um bicho de sete cabeças, é algo muito fácil”, disse a professora Liane Cabola, que participou da primeira etapa da formação.
O objetivo é munir os professores de ferramentas para montar seu planejamento pedagógico da maneira mais inclusiva possível, para qualquer disciplina e faixa etária, em escolas públicas e privadas.
Um dos instrumentos apresentados na oficina foi o Desenho Universal para a Aprendizagem. Em vez de se adequarem a cada aluno individualmente, os educadores já chegam preparados para atender a todos.

O encontro presencial da formação contou com um jogo interativo – Foto: Ramon Andrade
“São instrumentos que levam a ter uma reflexão, um olhar efetivamente inclusivo. A partir do momento que você passa a ter esse olhar, você não consegue mais não ter”, conta Nadine Heisler.
“A nossa hipótese é que, se trabalharmos com essa profundidade e acompanhamento, conseguimos mudar o olhar do professor e facilitar o processo de inclusão”, acredita.
O Instituto Domlexia trabalha desde 2018 para capacitar educadores no ensino de crianças e jovens com dislexia, um distúrbio de aprendizagem que dificulta a leitura. Na formação “Diversidade na Sala de Aula”, contudo, os organizadores viram a necessidade de abordar a educação inclusiva de modo mais abrangente.
“Nessa formação vamos tratar de inclusão de uma forma ampla. Vamos falar tanto das deficiências, como visual, auditiva, motora e intelectual, quanto das neurodivergências, como autismo, dislexia, déficit de atenção e discalculia”, explica a idealizadora.
O desafio da educação inclusiva
Para Nadine Heisler, do Instituto Domlexia, a capacitação dos educadores é a chave da aprendizagem. “O maior obstáculo para a educação inclusiva no Brasil é a formação de professores. A gente precisa dar formações que eles efetivamente possam colocar em prática no mesmo dia”, defende.

Nadine Heisler, fundadora do Instituto Domlexia, aposta na capacitação dos professores – Foto: Ramon Andrade
Em 2022, um levantamento do Ministério da Educação revelou que 94% dos professores regentes não tinham formação continuada em educação especial, que atende pessoas com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação.
Os cursos de licenciatura e pedagogia muitas vezes trazem a educação inclusiva como disciplina optativa na graduação, ou somente na pós, em vez de uma matéria obrigatória para todos os profissionais.
“É uma lacuna mesmo”, considera Nadine. “Também é um grande desafio para o professor. Não é que ele não queira incluir, mas ninguém nunca passou instrumentos para facilitar esse processo de inclusão”.

A formação aborda a aprendizagem de alunos com deficiência e com neurodivergências – Foto: Ramon Andrade
O curso “Diversidade na Sala de Aula” surge para auxiliar os educadores a adotar a educação inclusiva no cotidiano e adaptar os planos das aulas. “Precisa ter formação, mas uma formação voltada para a prática e que facilite a vida desse professor”, completa a organizadora.
“Eu acho que a educação tem que ter esse afeto e esse amor, para a gente ter um olhar sensível para a criança”, reflete Patrícia Schifini, que participou da oficina em Florianópolis. “Fiquei muito animada com esse leque de possibilidades que abriu e as reflexões que a gente fez aqui, com certeza vai mudar o meu olhar”, finaliza.