Brasil é referência em transformação digital no setor público

Rodrigo Santos é Diretor da Unidade de Setor Público da Softplan

Quando falamos em transformação digital no setor público, poucas pessoas imaginam o Brasil como um dos países mais tecnológicos nessa área – sendo que estamos à frente de grandes nações europeias, como França e Alemanha, que ainda persistem em processos formatados em papel. Em nosso país, a digitalização continua avançando nacionalmente – principalmente no Governo Federal, autarquias e pequenos municípios –, com serviços de atendimento oferecidos à população de forma online, levando mais eficiência e gerando uma maior interação entre governos e cidadãos.

O que ainda falta ao país é substituir a morosidade nos processos, junto com a falta de credibilidade nos serviços, por ações automatizadas, unindo todas as esferas de governo com municípios e estados. Desta forma, é possível proporcionar economia, tirar o papel de circulação e gerar mais investimentos no setor. Afinal, é de interesse das instituições públicas que os cidadãos tenham uma jornada de vida facilitada pelas soluções digitais.

O país com o melhor governo digital do mundo, a Estônia, não detém nenhuma tecnologia que o Brasil não utiliza, seja em digitalização ou inteligência artificial, por exemplo. O caminho para nos igualarmos à nação mais tecnológica do mundo é óbvio: acabar com o papel no serviço público, com liberdade para cada órgão definir a melhor estratégia para garantir a integração entre todos os sistemas, em vez de centralizar internamente a construção e desenvolvimento.

Só no Judiciário, por exemplo, a tecnologia – de acordo com o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), em dados compilados entre o período de 2015 até 2021 – já ajudou a economizar mais de 25 mil toneladas de papel, junto com uma redução de tempo de 90% entre a distribuição do processo e o primeiro ato do magistrado. Apenas em economia de papel o montante é impressionante: são mais de R$ 265 milhões, além de 6,2 milhões de horas economizadas.

De acordo com o Tribunal de Justiça de São Paulo, a implantação do processo digital mudou a vida de 10 mil colaboradores da instituição, cuja atividade era de natureza manual e repetitiva. Não houve perda de postos de trabalho diante dessa implantação – e os colaboradores foram alocados para apoiar magistrados na análise de processos e construção das minutas de decisões.

Cabe destacar que somente neste tribunal – considerado o maior do mundo, com mais de 50 mil funcionários – a adoção da tecnologia permitiu que, durante a pandemia, a operação passasse de um modelo 100% presencial para o remoto em apenas 15 dias.

Isso mostra que sabemos conduzir toda essa jornada do papel até a automação, em um avanço que se intensificou durante a pandemia, facilitando a vida dos brasileiros. Mas o setor público ainda precisa investir mais para gerar um país com maior conectividade e, principalmente, capacitar profissionais internos e abraçar a tecnologia em sua cultura organizacional. Quando falamos em tecnologia, por sinal, é preciso destacar que é um processo contínuo, estratégico e de análise de dados para monitoramento de informações, gerar impacto social e apoio nas ações de serviços, rastreabilidade e computação em nuvem.

Assim, o que precisamos no momento é modernizar todo o legado de infraestrutura, ter uma maior cultura de proteção de dados, e não só levar a tecnologia para os serviços públicos: é preciso, também, colocá-la na rotina de trabalho dos servidores, capacitando-os e aplicando a digitalização nos fluxos processuais. Outras ações a serem realizadas pela gestão púbica digital são a aplicação de tarefas por meio de acesso remoto, como monitoramento da coleta de lixo, coleta de dados do trânsito e tratamento de números pela instituição, com o intuito de subsidiar a tomada de decisões e definir estratégias para os próximos passos.

O objetivo dessa transformação é fazer com que o governo seja cada vez mais centrado no cidadão, de forma integrada com as demais plataformas e proporcionando um serviço inteligente, confiável, aberto e eficiente. Desta maneira, além de reduzir burocracias será possível também aumentar a confiança das pessoas – um ativo valiosíssimo e fundamental para qualquer governo.

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