Mãe de criança trans de 5 anos celebra transição social e novo nome do filho: ‘Ele renasceu’

Miguel não tinha nem completado 5 anos quando começou a perceber que algo estava errado em seu corpo. As queixas constantes em relação ao comprimento do cabelo, as roupas e ao jeito que o tratavam viraram dor física. Foi então que sua mãe, Cinthya Cristina, de 35 anos, se deu conta que precisaria vencer suas limitações para apoiar o filho.

Miguel, criança trans de 6 anos

Miguel é uma criança trans de 6 anos – Foto: Instagram/@maedequatrogemeos/ND

Cinthya é mãe de dois gêmeos: Anthony e Carlos, de 13 anos, e Sophia e Miguel, de 5. A mãe teve os filhos em um casamento que durou 13 anos, mas quando as crianças mais novas tinham por volta de 1 ano, ela se separou e precisou se mudar com os quatro gêmeos para uma casa que tinha apenas um cômodo.

Ela começou a compartilhar a rotina na internet e criou o perfil no Instagram “Mãe de quatro gêmeos”. Os desafios de criar os filhos sozinha já eram muitos, quando percebeu que, na verdade, tinha três filhos homens, ao invés de dois.

“Eu não sabia que existia criança trans, então eu tive que buscar conhecimento, estudar, entender o que estava acontecendo com ele. Como eu não sabia que existia, não era uma coisa que era possível na minha cabeça”, relatou Cinthya em entrevista ao Terra Nós.

Como foi a transição social

Aos 4 anos, Miguel começou a reclamar de fortes dores abdominais. A mãe o levou para médicos e a criança passou por exames, mas nenhuma causa foi encontrada. Os profissionais indicaram, então, que poderia ser alguma questão psicológica.

Miguel, criança trans

O menino se entendeu como criança trans aos 4 anos – Foto: Instagram/@maedequatrogemeos/ND

A mãe desconfiou que a separação poderia estar relacionada com as queixas do filho e, após recomendação médica, passou a frequentar sessões de terapia com Miguel e seu pai.

O acompanhamento ajudou por um tempo, mas as dores voltou. Paralelo a isso, Miguel sempre pedia para cortar o cabelo, dizendo que odiava as mechas longas.

“Aí eu falei assim: ‘se o problema é o cabelo, que cresce, eu vou cortar’. Então cortei o cabelo do Miguel. Do dia que eu cortei o cabelo até hoje, ele nunca mais apresentou nenhuma dor. Não teve mais dor abdominal, gritos, choros, medo, mais nada, acabou”, destacou.

Para Cinthya, foi como se Miguel tivesse renascido após o corte de cabelo.

“Eu tenho um filho antes do corte de cabelo e um filho depois do corte de cabelo, porque ele renasceu. O sorriso dele na hora que viu o cabelo dele cortado foi instantâneo. Abriu um sorriso que nunca mais se apagou, iluminou aquela criança”, completou.

Miguel com a irmã gêmea, Sophia

Miguel com a irmã gêmea, Sophia – Foto: Instagram/@maedequatrogemeos/ND

Foi quando “caiu a ficha” de Cinthya e ela começou a reparar mais no comportamento do filho, que também reclamava de ser tratado no feminino. Ela levou a questão para seu perfil no Instagram, onde encontrou acolhimento.

Depois de encontrar outras mães de crianças trans e notar que não estava sozinha, ela começou a ajudar o filho a escolher um novo nome. Depois de várias sugestões e muitas recusas, o próprio menino surgiu com a escolha. “É Miguel. Esse já era o meu nome”, disse ao voltar da escola.

“O processo do Miguel, de corte de cabelo, pronome, roupa, nome, entender que ele era um menino, porque ele sempre se tratava já no masculino, levou cerca de um ano. Então, dos cinco aos seis anos foi um processo de transição”, explicou a mãe.

Desafios de ser mãe de uma criança trans

A criadora de conteúdo revela que o filho foi acolhido e respeitado na escola, que o trata com o nome social, mesmo sem ele ter os documentos retificados ainda.

Cinthya Cristina, mãe de criança trans, com os quatro filhos

Cinthya Cristina é mãe solo de quatro gêmeos – Foto: Instagram/@maedequatrogemeos/ND

Apesar dos estigmas, Cinthya destaca que seu maior desafio não é ser mãe de uma criança trans, mas sim, ser mãe solo. “É muito difícil, muito doloroso. A gente passa por coisas que ninguém deveria passar”, aponta.

O preconceito existe, no entanto. No perfil com mais de 100 mil seguidores, a criadora de conteúdo recebe muitas críticas e ofensas.

“As pessoas me questionam o tempo todo. É muito preconceito, falta de informação. As pessoas não têm noção do que escrevem, são ignorantes no assunto também. Como eu já estive no lugar de nem saber que existia criança trans, quando vejo algum comentário assim, procuro responder com o olhar que eu tinha, ensinando as pessoas”, destaca.

Apesar disso, a mãe acredita que tudo é recompensado quando recebe comentários positivos, de pessoas revelando que a história de Miguel as ajudou e inspirou.

“Eu gostaria que as pessoas entendessem que apoiar uma criança trans não é influenciá-la, não é confundi-la. Mas, sim, a gente enxergar que a criança é um indivíduo que precisa de amor, de atenção. Ela tem sentimentos, e são esses sentimentos que vão torná-las os adultos de amanhã”, ressalta.

“Eu amo o meu filho, amo os meus quatro filhos, independente de quem são. Eles são indivíduos diferentes um do outro e são respeitados de acordo com sua individualidade, cada um do jeito que é”, finaliza.

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