

Ricardo Nunes defendeu a não renovação do contrato da Enel em audiência na Câmara que contou com a presença do CEO da empresa – Foto: Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados/ND
O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), participou no fim da tarde desta terça-feira (10) de audiência pública na Câmara dos Deputados, em Brasília (DF), sobre a atuação e renovação da Enel, concessão de energia elétrica. Ele atacou a empresa e defendeu que o contrato não seja renovado.
A concessão de energia na região Metropolitana de São Paulo começou em 1998 e chega ao fim em 2028, mas a empresa pediu a antecipação da renovação por mais três décadas. O processo está em análise na Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica). A Enel atua na região desde 2018, quando comprou a Eletropaulo.
“Deus o livre conviver mais 30 anos com essa empresa lá fazendo o povo sofrer sem energia”, declarou o prefeito diante da comissão de Minas e Energia da Câmara. “Não existe a menor condição dessa empresa continuar”, reforçou Nunes em diferentes momentos da audiência sobre a renovação da Enel.
Nunes deu a entender que o governo Lula, em especial o ministro de Minas e Energia Alexandre Silveira, é a favor da renovação da Enel de forma antecipada e criticou. “Vai vencer o contrato em 2028 e quer antecipar a renovação com uma irresponsabilidade do governo federal.”
Prefeitura é contrária à renovação da Enel
A prefeitura de São Paulo tem criticado publicamente a empresa, criticando o serviço prestado, principalmente em dois momentos de apagões, em novembro de 2023 e outubro de 2024. Na primeira crise, 2,1 milhões de pessoas ficaram sem energia elétrica após tempestade. O serviço só foi totalmente restabelecida depois de uma semana.
No ano seguinte mais um apagão após tempestade. Quatro dias depois, 530 mil pessoas ainda estavam sem luz na região metropolitana.
O deputado federal João Cury (MDB-SP), presidente da Cohab (Companhia Metropolitana de Habitação de São Paulo) no primeiro mandato de Nunes, reforçou a crítica ao citar um caso de conjunto habitacional que passou 30 meses aguardando a ligação de energia. O prefeito afirmou que isso ocorreu também com escolas, unidade básicas de saúde (UBSs) e unidades de pronto-atendimento (Upas).

Audiência pública na Câmara dos Deputados discutiu o contrato de concessão da Enel – Foto: Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados/ND
Paulinho da Força (SD-SP) prometeu uma guerra contra a renovação da Enel e criticou a redução de 36% no número de funcionários. “Se estivéssemos em um país sério, o senhor estava preso”, disse ao CEO da concessionária.
O presidente da Força Sindical afirmou ser próximo do sindicato do setor na Itália, país de origem da Enel. “Eu sei da fama se vocês. Vocês pegam a concessão e destroem a rede”, acusou.
Também acompanharam Ricardo Nunes em Brasília, na audiência sobre a renovação da Enel, o presidente nacional do MDB, deputado federal Baleia Rossi, e o vereador João Jorge (MDB), vice-presidente da Câmara de SP, que presidiu a CPI da Enel, concluída em junho do ano passado.
‘Temos condição de manter o contrato’, defende CEO
Antes das falas do prefeito Ricardo Nunes e dos deputados, quem se apresentou a comissão da Câmara, presidida por Diego Andrade (PSD-MG), foi o CEO da Enel São Paulo, Guilherme Lencastre.

CEO da Enel, Guilherme Lencastre, reconheceu falhas, anunciou investimentos e defendeu capacidade da empresa em atender São Paulo – Foto: Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados/ND
O executivo assumiu o cargo em julho do ano passado, mas falou também da crise de 2023 e do desafio da empresa. Segundo Lencastre, a Enel atende 8,3 milhões de unidades consumidoras, o que representa mais de 20 milhões de pessoas.
“Um evento climático [em São Paulo], que agora, começa a ser cada vez mais frequente, ele impacta um número de clientes muito maior do que qualquer outro lugar do Brasil”, alegou o empresário.
Sobre o apagão de novembro de 2023, o CEO afirmou que ele foi sete vezes maior do que qualquer “evento” registrado nos últimos cinco anos. “Não é fazer reparo, é reconstruir a rede.”
Lencastre afirmou que a empresa tem ampliado o quadro de funcionários e abriu dois centros de formações de novos eletricistas ao perceber falta de mão de obra qualificada. Ainda segundo o CEO, a empresa contratou 1,2 mil profissionais e renegociou com sindicatos da categoria e empresas terceiras a inclusão de cláusulas de sobreaviso.
Os números da empresa ainda mostram uma melhora de 50% no tempo médio de atendimento no último ano, “com 30% a mais de ocorrências”, segundo o CEO.
“Reconheço que se pegarmos os números de 2023 e 2024, eles não são bons. Enfrentamos eventos climáticos extremos inéditos”, admitiu, mas garante: “a empresa tem plenas condições de manter a concessão”, completou ao defender a renovação da Enel.
Um dos slides da sua apresentação defendeu que a “antiga controladora” investiu 2,4 bilhões entre 2015 e 2017, enquanto a Enel ampliou para R$ 3,1 bilhões (2018-2020) e R$ 5,1 bilhões (2021-2023). A empresa prometeu investir R$ 10,4 bilhões entre 2025 e 2027.